— Que bom, Aline! Vai prestar vestibular para qual curso?

— Não vou prestar vestibular.

— Está aqui para aprimorar os seus conhecimentos gerais?

— Não. Eu estou tentando mesmo é concurso público.

— Então não faz sentido. As provas e os conteúdos são bastante diferentes.

— Sim. Eu sei.

— Então?

— Ah! Eu moro aqui ao lado. Já tenho trinta anos, sou casada e quero engravidar.

Oi?

— Realmente não estou entendendo nada, Aline.

— Quem sabe eu não me animo a voltar para a faculdade, professora?

Nitidamente, a ansiosa aluna estava mais perdida do que cego em tiroteio, como se diz.

Comecei a aula, cujo conteúdo era o uso dos porquês. Ela, munida de gramáticas e de um laptop, rapidamente o sacou e redarguiu-me:

— Aqui no Google está dizendo que o porquê separado é o porquê de pergunta e que o porquê junto é o porquê de resposta.

— Tenha aulas com o professor Google então e sinta-se à vontade para não assistir às minhas.

Quanta petulância!

Voltei à aula e escrevi um esquema sobre o uso dos porquês no

quadro:

PORQUE

Ideia de explicação ou de causa.

Voltei porque gosto de você.

PORQUÊ

Substantivado e substituível pela

O porquê da minha felicidade? Não

palavra “motivo”.

me pergunte sobre os meus porquês.

POR QUÊ

Substituível pela expressão “por que

Por quê? Ela sabe por quê.

razão” e vem no final da frase.

POR QUE

Substituível pela expressão “por que

Ela mostrou por que estava feliz.

razão”.

POR QUE

Substituível por “pelo qual” e

Os motivos por que luto são

variações.

importantes.

— Professora, a gramática que tenho aqui diz que só existem quatro tipos de porquês.

Que chatice, gente!

— Certamente o autor em questão não está contando com o último porquê, que tem função de pronome relativo.

— Nesta outra gramática que tenho aqui, está escrito que o porquê junto e com acento vem sempre com o artigo “o” na frente, mas você não disse isso.

— Não disse porque não é verdade. Na música de Vinicius de Moraes e de Odete Lara, “Samba em prelúdio”, há um exemplo. Vou passar no quadro:

Eu sem você

Não tenho porquê

Porque sem você

Não sei nem chorar...

— Em “Não tenho porquê”, ocorre o porquê com função de substantivo, já que ele substitui a palavra “motivo”, que é um

substantivo. Eu sem você não tenho motivo... Geralmente o artigo “o”

vem anteposto a esse porquê, mas há exceções, como nesse caso.

— Mas na gramática...

— Aline, já que você tem tanto interesse assim por gramática, diga-me: na frase “Desrespeitou tanto a professora que foi retirada de sala”, qual é o sujeito?

— Não sei...

— Sujeito existente, simples e determinado demais para o meu gosto: você, que agora vai se transformar em uma oração sem sujeito e sair da minha frente com esse laptop desnecessário, essas gramáticas duvidosas e essa falta de compostura.

Por que eu expulsei a aluna da sala de aula? Você sabe por quê...

CANSAÇO

— Estou meia cansada hoje. Não vou.

— Da cintura pra cima ou da cintura pra baixo?

— Oi?

— Do lado esquerdo ou do lado direito?

— Como?

— Decida em qual das metades o cansaço pesa em você.

— No corpo todo, ué.

— Ufa! Achei que fosse da cintura pra baixo.

— Quê?

— Meio cansada, querida. Meio cansada.

BASTANTE OU BASTANTES

Bastantes momentos de paz?

M amãe já havia me alertado sobre a minha incompatibilidade com Álvaro:

— Vocês não combinam em absolutamente nada, minha filha! Esse rapaz gosta de cerveja e de churrasco na casa dos amigos. Você, de vinho e de restaurante.

— Isso é verdade...

— E outra: pelo que percebi, é homem que adora turma: tem a turma do jiu-jítsu, a do futebol, a do colégio, a do trabalho, a dos primos...

— E daí? Sou supersociável!

— É, sim. Deus tá vendo. Deixa de ser cara de pau, minha filha! Você é do tipo de mulher que, se o homem pudesse vir órfão, você preferiria.

— Credo, mãe! Adoro a mãe dele.

— Vamos ver por quanto tempo. Ele vai tirar a sua paz, minha filha.

Ouça o que eu estou falando. Daqui a pouco vai atrapalhar até o seu trabalho.

Realmente ele tirou a minha paz: despedidas de solteiro, festas de confraternização, churrascos, aniversários, casamentos... Eu, caseira e controladora, não suportava ir a tantos eventos, tampouco queria que ele fosse. Resultado: um relacionamento difícil, cujo término superou qualquer novela mexicana. Acompanhe.

Cansada dessa relação, resolvi viajar sozinha para dar um tempo.

Liguei para uma prima, dona de uma agência de turismo:

— Alessandra, tudo bem? As minhas férias começam na quinta-feira.

Preciso que você me mande para um local, no Brasil, bom para ir sozinha.

— Ixi... Não deu certo com ele não, né?

— Não. Escolha um local bonito, tranquilo, bom para refletir sobre a vida, por favor. Preciso de paz.

— Deixa comigo, prima.

Liguei para o Álvaro:

— Álvaro, chega de fingir que estamos bem. Não suporto mais esse estilo de vida seu. Vou ficar uns três ou quatro dias fora. Pense se você quer continuar comigo. Também vou pensar. Quando eu voltar, conversaremos.

— Tudo bem, Cíntia.

Minha prima ligou:

— Vou mandar você para Gramado, no Sul. Lá tem um lago lindo, você terá bastante momentos de paz.

— Bastantes, Alessandra.

— Jura? Bastantes? Que feio!

— Quando “bastantes” é sinônimo de “muitos”, também vai para o plural.

— Olha... Não sabia. Você terá bastantes momentos de paz lá. Tá certo?

— Espero que sim. Preciso de bastantes momentos de paz. Você nem imagina.

— Posso emitir as passagens, então?

— Pode.

Ao desembarcar do avião e entrar na van que me aguardava, já senti a paz descrita pela minha prima: só havia idosos no veículo. Parecia que eu estava naquele filme Cocoon , dos velhinhos que viviam em um asilo na Flórida. Que paz! Era disso que eu precisava. Quando cheguei ao hotel, senti mais paz ainda, porque não havia quase ninguém hospedado lá.

Dando uma volta pela cidade, a paz aumentou, pois só havia velhinhos e casais. Era muita paz mesmo. Eu realmente teria bastantes momentos de paz ali. Liguei para a mamãe:

— Mãe, cheguei.

— E então?

— Bastante paz. Bem que a Alessandra falou.

— Cuidado para não surtar aí, hein?

— Que surtar que nada... Estou ótima!

E estava ótima mesmo. No dia seguinte, acordei e fui correr nas proximidades do Lago Negro. Era lindo! Corri também na Avenida das Hortênsias. Fiquei encantada. Depois, corri de Gramado a Canela. Mas, durante a ida, eu ia parando nas fábricas de chocolate. Não fazia sentido

nenhum. Na volta, resolvi ser sensata e não parar em nenhuma fábrica.

Cheguei ao hotel morta, com quatro bolhas nos pés, mas em paz. Tomei aquele banho e dormi.

No outro dia, contratei um motorista para me levar aos pontos turísticos de Gramado e de Canela. Nunca mais vou esquecer esse homem: senhor Messias. Estávamos em uma vinícola quando chegou uma mensagem do Álvaro:

“Você reclama quando saio com os meus amigos, mas viajou sozinha.

Esperei para ver se você realmente iria e fiquei decepcionado quando vi que você foi. Está tudo terminado. Nunca mais me procure.”

Eu não acreditei naquilo. Como assim? Ele nem me esperou para conversar? Que cretino! Desatinei a chorar. Chorava tanto que até soluçava. Mas por que eu estava chorando se era o que eu queria?

“Abandonismo”? Carência? Acho que a palavra “nunca”, na mensagem, pesou. Nunca é para sempre, né? Chamei o senhor Messias:

— O que você tem, menina?

— Homem, seu Messias. Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor.

— Pois não?

— Eu contratei o senhor para me levar aos pontos turísticos, né? Mas eu posso escolher uns lugares diferentes no meio do caminho?

— Pode.

— E posso beber no carro do senhor?

— Pode.

— Então tá. Me aguarde que vou comprar umas garrafas de vinho aqui.

Comprei as garrafas, e fomos embora da vinícola em direção à Cascata do Caracol. No caminho, eu bebia e conversava com a minha mãe.

— Mãe!!!

— Ixi! Acabou a paz já?

— Ele terminou, mãe. Vou morrer.

— Pare com isso. Era o que você queria. Agora aguenta. Eu conheço você. Esse drama não dura dois dias.

— Por que nada dá certo pra mim, mãe?

— Dá sim. Você é muito bem-sucedida.

— No amor, mãe.

— No quê?

Eu chorava tanto que não dava para entender o que eu falava. Chorava

e tomava um gole de vinho na garrafa.

— Você está bebendo? Olha, olha... Você é fraca pra bebida, está aí sozinha...

— Como eu esqueço esse cretino, mãe?

— Imagine-o fazendo cocô. Isso sempre funcionou comigo.

Enquanto isso, o coitado do seu Messias, preocupado, perguntava o tempo todo se eu queria voltar para o hotel.

— Não vou voltar! Contratei o senhor para eu conhecer os pontos turísticos e vou conhecer. Esse idiota não vai atrapalhar a minha viagem.

Chegamos à tal cascata. Era linda. Sentei-me em frente a ela e liguei para a minha personal trainer e amiga:

— Tati...

— Pelo “Tati”, já vi que terminaram.

— Acabou! Vou morrer. Vou me atirar nessa cachoeira.

— Não é cachoeira, é cascata. E esse tipo de morte não combina com você. Já te falei para arrumar um homem mais velho, mais maduro, que cuide de você.

— Será que um dia vai dar certo?

— Cíntia, isso é carência. Você não gosta dele. Seja objetiva. Vá correr. Exercício traz paz.

Desliguei. Imbuída de uma autocomiseração que beirava a insanidade, fiquei ali, parada, olhando para o nada. Seu Messias, visivelmente preocupado, perguntou se não estava na hora de eu almoçar.

— Boa ideia. O senhor vai almoçar comigo.

Durante o almoço, ele me contou que, após o término do seu último casamento, ficou viciado em remédios para dormir. Contou que nunca mais gostou de ninguém e que não queria saber mais de mulher na vida.

— Mas o senhor não sente falta?

— Tenho as minhas confusões, né? Não sou de ferro. Mas morar junto? Nunca mais. A gente se apega demais, menina.

— É... E esse remedinho para dormir? O senhor tem aí?

— Não, mas tenho em casa. Levo você ao hotel e mais tarde deixo na recepção.

— Obrigada! O senhor foi o meu salvador! Obrigada pela companhia também.

Voltei para o hotel. Depois de uma garrafa de vinho e quinze telefonemas para amigos, eu ainda chorava. A cada vez que eu contava a

história, eu chorava. Até que o gerente telefonou para o meu quarto:

— O motorista deixou um remédio para a senhora.

— Não dou conta de descer. O senhor poderia trazer para mim?

— Claro.

Quando ele me viu, assustou-se:

— A senhora precisa de alguma coisa?

— Sim! De alguém que me entenda. Todo mundo diz que é drama, mas não é. O senhor pode me ouvir?

Coitado do gerente...

— Então entre. Sente-se.

— Não posso me sentar, senhora.

— Pode sim. O quarto é meu.

E contei toda a ladainha para o pobre gerente, que, crente na genuinidade da minha dor, fitava-me com olhos lacrimejantes. Uma hora depois, ele disse:

— Agora tome um banho e não se esqueça do remédio. Amanhã a senhora estará descansada para viajar.

Obedeci e dormi. No dia seguinte, eu estava visivelmente apática por causa do remédio: eu demorava um minuto para entender o que falavam comigo e mais um minuto para responder. Um delay só. O avião fez conexão em São Paulo. Sentei-me para esperar o voo para a minha cidade. E lá permaneci por horas, olhando para o nada. Em certo momento, voltei a chorar. Daí um atendente da companhia aérea veio até mim:

— Posso ver o cartão de embarque da senhora?

Entreguei.

— Minha senhora, a senhora já perdeu dois voos. Não pode perder o terceiro, que é o último que parte para Belo Horizonte. Vou colocá-la nesse voo e comprar um café para a senhora, tudo bem?

— Tudo bem. Obrigada.

Que alma boa... Seria um anjo enviado por Deus? Cheguei à minha cidade. Liguei para uma amiga, Luciana, que havia se separado recentemente e que com certeza entenderia a minha trágica situação.

Pedi a ela que dormisse na minha casa. Não aguentaria dormir sozinha.

Seria demais para mim. No dia seguinte, incrivelmente, eu estava ótima, como se nada tivesse acontecido. Tirei a paz de muitas pessoas, mas eu...

Ah! Eu estava pronta para ter bastantes momentos de paz.

PÃO-DURO

— Mamãe é muito pão-dura, fessora.

— Pão-duro, Clara.

— Mas “mamãe” é palavra feminina.

— Sim. Mas a concordância ocorre com “pão”, que é palavra masculina.

— Mamãe é pão-duro?

— Isso.

— Feio demais!

— O feio também existe, Clara.

ASSISTIR O OU ASSISTIR AO?

Os filmes a que assisti

—V ocê fala exageradamente de filmes... Como foi a sua relação com os filmes?

— Bem, a minha primeira grande paixão cinematográfica foi Elvis e eu , baseado na história de Priscilla e Elvis Presley. Na verdade, esse filme nem era tão bom, mas foi o responsável por desencadear, aos dez anos, o meu amor pelo Rei do Rock. Depois veio Curtindo a vida adoidado . Fiquei louca pelo personagem Ferris Bueller, apesar de, na época, achar um charme o jeito caladão do melhor amigo dele.

— Hummm... Continue.

— Em uma fase mais sentimental, passei a adorar Amor sem fim , ao qual assistia, creio, para chorar. Só pode... Eu não tinha mais do que treze anos, Sandra. Enquanto as minhas amigas brincavam de boneca, eu namorava os astros do cinema. Menina “pra frente”, como dizem.

— Sei... Conte-me mais.

— Completando a lista dos “filmes para chorar”, passei a assistir a Tomates verdes fritos copiosamente. Tão lindo... Eu até comprei um tomate verde e fritei. Péssimo. Ou eu não soube fazer, o que é bastante provável. Em seguida, veio uma época mais erótica...

— Erótica?

— Sim, erótica. Foi com 9½ semanas de amor , que eu alugava escondido e via umas dez vezes no fim de semana. Não sei se eu superestimo esse filme, mas acho que ele provocou efeitos em mim cujas sequelas ainda não me sinto segura para comentar com você. Ele foi o Cinquenta tons de cinza da época. O problema é que eu não tinha nem quinze anos...

— Interessante. Prossiga.

— Saí do erótico e desembarquei no romance improvável e piegas de Uma linda mulher . Fiquei anos estacionada nesse filme. E confesso:

assisto a ele até hoje. Amo.

— Sei... E o que mais? Continue.

— Um tempo depois, fui apresentada ao cinema “cult”. O primeiro foi O último tango em Paris , que, de acordo com a minha mãe, era “safadeza disfarçada de cultura”. Mas eu adorava o Marlon Brando! Daí veio La dolce vita ... Apaixonei-me pela personagem de Anita Ekberg. Queria entrar na Fontana di Trevi e ter um Marcello Mastroianni para me resgatar. E o que falar de Casablanca com “As Time Goes By”? Quem resistiria a Bogart? Ninguém. E quase pulei da ponte ao assistir ao filme As pontes de Madison . Juro, Sandra. Qual mulher não deseja um amor (e um homem) como aquele? Aposto que você deseja. Clint Eastwood e Meryl Streep deram vida a um romance que sempre me faz chorar... A cena da maçaneta do carro é imbatível.

— Essa cena é linda mesmo.

— Não disse? Bem, depois de ter uma overdose de diretores como Woody Allen, Bergman, Polanski e Denys Arcand, caí no cinema nacional e nas garras do Capitão Nascimento. Assisti a Tropa de elite no cinema com um namorado. Você acredita que ele me pediu para eu me conter?

Disse que qualquer um perceberia a minha infidelidade.

— Infidelidade?

— Sim. Disse que eu o traía com os filmes.

— Você quer dizer com aquilo que você projetava nos personagens.

— Eu não quero dizer nada. Você fez uma pergunta, e eu estou respondendo.

— E hoje?

— Hoje mantenho uns encontros com o Mr. Big, de Sex and the City .

— Você percebe que esses filmes atrapalham a sua busca por um relacionamento saudável? É muito difícil competir com os personagens de Richard Gere, Marcello Mastroianni, Clint Eastwood... Você está descompensada.

— Ai, que exagero.

— Pare de assistir esses filmes.

— Mas eu não assisto OS filmes.

— Como não?

— Se eu assistisse OS filmes, eu faria parte da equipe de produção.

— Não entendi a brincadeira.

— Eu assisto AOS filmes, Sandra. Assistir, no sentido de ver, é verbo

transitivo indireto. Eu assisti AO filme. Pede a preposição “a”. Entendeu?

— E esse negócio de fazer parte da equipe de produção?

— Se você assiste O filme, o sentido passa a ser o de ajudar, já que não há preposição, só o artigo. Então, quem assiste o filme é a equipe de produção, não o espectador. Você, por exemplo, que é psicóloga, deveria assistir O paciente.

— Você quer dizer que eu não ajudo você? Que eu não assisto você?

— Sinceramente, quem assistiu você hoje foi eu.

— Por quê?

— Porque, além de fazer você fantasiar pelo mundo cinematográfico, dei-lhe uma boa aula de regência verbal. Cinema e português. Quer coisa melhor? Só faltou o vinho. Vou embora.

— Mas a sessão não acabou.

— Acabou outra coisa.

— O quê?

— A minha vontade de falar.

— Como assim?

— O vento levou.

Voltei para casa, encontrei-me com o Mr. Big e mais tarde fui dormir com o Elvis. Neles sim eu podia confiar. Eu, hein? Mulher descompensada...

COMIDA

Baguete? A baguete.

Fondue? A fondue ou o fondue.

Omelete? A omelete ou o omelete.

Quiche? A quiche ou o quiche.

Diabetes? A diabete, a diabetes, o diabete, o diabetes.

VENDE-SE OU VENDEM-SE?

Obscenidade linguística

Q uando iniciei a minha história com Arthur, fi-lo com os dois pés atrás, afinal tratava-se do quarentão mais misterioso da cidade. Eu pouco sabia da vida dele, apesar dos vários amigos em comum, como o Felipe.

— Felipe, me passa a ficha do Arthur.

Sim, leitor, sou dessas... Descubro até se o infeliz tem nome no Serasa. Gato escaldado tem medo de água fria, não é mesmo?

— Uai, amiga, é um menino bom, um príncipe.

— Príncipe? Defina príncipe.

— Bem-sucedido, trabalhador, muito honesto, de boa família, cavalheiro. Tudo o que você gosta.

— Sei... Mais alguma coisa?

— A ex-namorada dele você já conhece... Hum... Mais nada de que eu me lembre.

— Tem certeza, Felipe? Olha lá, hein? Vou sair pra jantar com ele.

— O perigo é só de ele não falar.

— Como assim? O meu jantar será um monólogo?

— Ele não fala muito, mas, quando abre a boca, é ótimo. É um menino muito inteligente. Saia com ele. Quem sabe não dá certo? Você fala por dois mesmo...

Desliguei o telefone pressentindo a enrascada, mas a minha curiosidade antropológica era maior do que o meu apreço pelo meu sexto sentido.

Saímos. O Felipe estava totalmente enganado... Que homem cavalheiro e inteligente. Conversamos muito! Fiquei impressionada.

— Felipe, ele é ótimo! Conversamos bastante. E como é cavalheiro!

Um príncipe.

— Sério que com você ele conversou?

— Muito!

— Sobre o quê?

— Ah, sobre mim, sobre o meu trabalho, sobre as entrevistas que dei nos últimos tempos...

— Só sobre você?

— Uai, Fê! Sobre a vida.

— Viu? Ele não falou sobre ele. Aposto que foi quase um monólogo.

Dei continuidade ao romance. Um mês depois, o que parecia ser um mar de rosas deu lugar a um lago: parado e enfadonho.

Ainda não contei, mas Arthur era dono de uma construtora bastante respeitada na cidade. Por isso, bastava eu entrar no carro dele para ele começar:

— Está vendo aquele prédio?

— Sim.

— É meu.

— Que legal.

Dois quarteirões à frente:

— Está vendo aquela cobertura?

— Sim.

— Só falta ela para o prédio ser todo vendido.

No quarteirão seguinte:

— Gosta daquele prédio?

— Gosto.

— Vendi ontem a última unidade. Tenho até que mandar tirar aquela placa.

— Espere aí.

— O quê?

— Na placa está escrito “vende-se apartamentos”.

— E daí?

— E daí que o correto é “vendem-se apartamentos”. O verbo deve concordar com o sujeito, que é “apartamentos”. Entendeu? “Vendem-se apartamentos”, porque “apartamentos”, o sujeito, são vendidos.

— E daí? Que bobagem!

— Bobagem?

— Ninguém liga pra esse tipo de coisa. Português é um saco. Alguém vai deixar de comprar um apartamento meu por causa da placa?

— Você deveria trocar as placas de todos os seus prédios. Pega mal pra sua empresa.

— O que pega mal é não vender. Isso pega mal. Hahaha! Não vou trocar todas as minhas placas por causa de uma cisma linguística sua.

Como se você se preocupasse de fato comigo... Você nem sequer pergunta como foi o meu dia e só fala de si.

— Só falo de mim... Você é que não se abre nunca. Quando fala, fala sobre as vendas desses malditos apartamentos. E ainda por cima não aceita a minha correção, que só tende a melhorar a imagem da sua empresa.

— Vou deixar você em casa.

— Ótimo. Isso nunca daria certo mesmo.

Cruzei os braços e emudeci durante todo o caminho para a minha casa. Depois disso, ficamos alguns meses sem conversar.

O que ocorreu depois? Do monólogo, passamos ao silêncio. Do romance, passamos à amizade. E as placas? Continuam nos prédios da empresa dele, intactas, estampando a obscenidade linguística presente em “vende-se apartamentos”. Afff!

A FASHIONISTA

“Na próxima coleção, os tons pastéis vêm com força total”, diz a fashionista .

Tons pastéis?

Blusas cinzas?

Sapatos ouros?

Vestidos vinhos?

Socorroooooo, senhora fashionista ! Se o adjetivo vem de substantivos, ele não vai para o plural.

Então:

Tons pastel.

Blusas cinza.

Sapatos ouro.

Vestidos vinho.

E ponto final.

A LONGO PRAZO OU EM LONGO PRAZO?

Os homens de 51 anos

—M ãe, o meu namorado tem 51 anos.

Pronto. Falei.

— O quê? O namorado de quem?

— O meu, mãe. Ele chama Hélber.

— Hummm... Até o nome é de velho. E você tem quantos anos, minha filha?

— Trinta e três.

— Quase vinte anos de diferença. Você acha isso bonito?

— Bem, não deu certo com os de quarenta, não deu certo com os de trinta...

— E aí você apela para um senhor de 51 anos, minha filha? Ele por acaso dá conta de você?

— Que pergunta é essa, mãe?

— Perguntar não ofende. Se bem que deve dar. A medicina anda tão avançada...

E assim foi o anúncio daquilo que, na minha vã ingenuidade, seria um relacionamento duradouro.

Mamãe sempre sonhou para mim (veja bem: sonhou para mim) um homem como o Thiago Lacerda. Acho, na verdade, que esse era o sonho dela, mas tudo bem.

— Que dia eu vou conhecer o Hélber, o cinquentão? Ele tem filhos?

— Tem. Dois filhos e duas ex-mulheres.

— É uma pouca vergonha... Isso não vai dar certo, minha filha! Esse tipo de homem não dura com mulheres como você.

— Por quê?

— Dois casamentos, dois filhos, cinquenta anos nas costas... Você acha que ele quer casamento? Ele pode até se casar novamente, mas será com uma mulher que tenha disponibilidade, coisa que você não tem. A

longo prazo, não funciona. Isso se ele funcionar, né?

— Em longo.

— Não adianta ser longo, filhota.

— Não, mãe. Afffff! Em longo.

— Quê?

— O correto é em longo prazo, com “em”. “A longo prazo” não existe.

— Ah, tá. Então afirmo: você vai ficar de saco cheio das cobranças presenciais dele, vai terminar e, depois, ele vai ficar com uma ou com várias mulheres subservientes, dispostas a tolerar qualquer coisa para ficar com ele. Isso tudo em longo ou em curto prazos. Mas será assim.

— Deixa eu ver se eu entendi: tudo aquilo que o atrai hoje, em longo prazo, será motivo de brigas. É isso?

— Isso, filhinha. Você é muito sagaz.

A minha mãe tem a capacidade de, ao mesmo tempo, ser admirável pela inteligência e detestável (ou também admirável?) pela ironia.

— Então eu faço o quê?

— Termine.

— Eu estou gostando dele, mãe!

— Em curto prazo, minha filha.

— Por causa da idade dele ou por minha causa?

— Por causa dos dois: porque você não se apega e porque ele já cansou de se apegar. Entendeu ou quer que desenhe?

— Eu me apego sim.

— Apega-se. Em curto prazo.

— Meu Deus! Eu não tenho jeito, então?

— Tem. Claro que tem. Para trabalhar, para inovar, para criar. Mas para casar... Toda vez que você me apresenta um namorado eu me pergunto se é autoflagelação.

— Que isso, mãe?!

— Dedo podre, minha filha. É genético. Mas, quem sabe, em longo prazo, você não mudará isso?

— Como?

— Só com o tempo. Você vai aprender.

Bem, dizem que praga de mãe pega, que mãe tem sempre razão.

Realmente não deu certo. Foi um namoro de oito meses. Um namoro de curto prazo. Eu terminei exatamente pelos motivos apontados por ela. E

tudo o que ela falou aconteceu. Depois disso, comecei a pensar em longo

prazo. E o que houve? Nada, já que passei a classificar os homens: esse é para relacionamento em longo prazo, esse é para relacionamento em curto prazo... E por que eu não permaneci com os “homens em longo prazo”? Porque, infelizmente, os “homens em curto prazo” costumam ser mais atraentes, principalmente os cinquentões. Fazer o quê? Um dia a minha perspectiva vai mudar... Nem que seja em longo prazo.

FUROR PEDAGÓGICO

Rui havia se formado em Letras para “ter um diploma”, mas o sonho do rapaz era ser maquiador e cabeleireiro profissional.

Certo dia, criou coragem e largou a vida de professor. Não enfrentou dificuldades. As portas abriram-se para ele. Mas era incapaz de disfarçar o desprezo que nutria pelas incautas clientes que insistiam em falar

“cabelereiro”:

— Já disse que sou cabeleireiro! Ca-be-lei-rei-ro.

Chegava a ser agressivo com as que diziam “maqueio”:

— É maquio, queridinha! Eu ma-qui-o!

Quase tinha um ataque quando ouvia “sombrancelha”:

— Você acha que é sombrancelha porque é perto de onde se passa a sombra? O correto é sobrancelha! Sem o “m”, fofa!

O nome disso? Furor pedagógico, leitor. Furor pedagógico.

Mal (ou bem?) incurável.

SE NÃO OU SENÃO?

Se não congelar... Congele, senão...

S empre me achei moderna em muitos aspectos. Até o dia em que tive de me confrontar com os meus óvulos.

— Como estão os meus exames, doutor Walter?

— Aparentemente, estão ótimos. Vamos aguardar o resultado do preventivo.

— Sim.

— Escuta, Cíntia, você já fez 35 anos, né?

— Não... Farei neste ano.

— Então chegou a hora de congelar os óvulos, se essa for a sua opção.

— Congelar o quê?

— Os óvulos. A partir dos 35, eles caem em quantidade e em qualidade. Se não congelar, as chances de você ter um filho completamente saudável diminuem. Congele, senão...

— Doutor, você reparou que você usou o se não separado e em seguida o senão junto?

— Não...

— O separado foi o primeiro: “Se não congelar”, dando ideia de hipótese. O segundo, junto, foi no “Congele, senão”, e significa “caso contrário”. Congele, caso contrário...

— É impressão minha ou você está mudando de assunto?

Eu estava. Na verdade, eu não queria ouvir as sábias palavras do doutor Walter Pace. Saí de lá meio zonza, como se tivesse levado uma rasteira do tempo. Parei o carro na primeira rua menos movimentada que vi e fiquei atônita, olhando para o nada... “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

Se você teve filhos antes dos 35 anos, parabéns. Mas, se não teve, recorra à medicina. Ela redimirá as pecadoras que nem sequer pensaram no assunto, as workaholics que não tiveram tempo para procriar, as instáveis que não mantiveram um relacionamento feliz e duradouro a ponto de chegar à fase do multiplicai-vos.

Talvez você há de, coerentemente, dizer: “Que drama. A medicina está aí para dar opção, ao sexo feminino, de gerar filhos quando quiser, com ou sem homem”. Não tiro a sua razão, mas não foi assim que eu sonhei. Aliás, eu nem sequer sonhei. Não me foi dado tempo para isso.

Vou além: a natureza está me obrigando a sonhar agora e diz para eu sonhar rapidinho, que os óvulos não podem esperar.

“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

Eu tinha tantas perguntas a fazer... Quando, no transcorrer da vida, eu fiz a opção pela carreira? Ou será que eu vivi no modo automático e nem percebi? Por que eu não quero congelar? Por que essa opção me parece tão solitária? Chego lá, congelo os óvulos, volto a trabalhar e, “na hora certa”, engravido? De quem? Devo me programar para achar um pai para os meus filhos, um bom procriador? Aquele que me dará uma boa prole?

E se vierem gêmeos? Dizem que a chance de virem gêmeos é maior nesses casos. Não sei nem se quero ter um filho. Imagine se vêm gêmeos... Meu Deus. Preciso organizar o meu raciocínio

“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

O pai. Não vou realizar uma produção independente. Fui uma produção independente e não gostei da experiência. Pai faz falta. Não sou moderna a esse ponto. “A pessoa certa vai aparecer na hora certa.”

Hum... Bobagem. A hora certa, para a medicina, é no máximo agora, mas não estou vendo nenhuma pessoa certa comigo.

“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

A profissão. Eu ainda tenho muitas coisas para realizar. Tenho projetos de médio prazo. Fazendo as contas aqui, o prazo de maturação dessa parte profissional se encerra lá pelos quarenta. Aí é só eu dar uma paradinha e ter filhos? Mas, para isso, terei de arrumar um relacionamento quanto antes. Conhecer, namorar, casar-me... Isso demanda tempo e dedicação. Como vou fazer isso se estou tomada pelos meus projetos? Cíntia, tantas mulheres conseguem, por que você não vai conseguir? Ainda mais agora, que o próximo homem tem de ser o pai dos meus filhos. Funcionárias públicas levam vantagem nessa questão... Mas eu não quero dar paradinha nenhuma. Quero trabalhar. Como sempre fiz.“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

O arrependimento. Então tá. Não quero ter filhos, quero a minha profissão. Nunca tive instinto maternal mesmo. Meu instinto é material.

Mas a Miranda Hobbes, de Sex and the City , também não tinha e passou a ter depois da gravidez. Tornou-se uma ótima mãe. Dizem que a velhice sem filhos é muito triste. A minha família é tão pequena... Seria bom ter um filho...

“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

Adormeci no carro por alguns minutos. Estava exaurida. Acordei e fui trabalhar com o tormento daquelas palavras na mente.

Eu não tinha e ainda não tenho respostas. E provavelmente não terei até a publicação deste livro. Se me conheço, não vou congelar.

Engraçado... Eu não me sinto com 35 anos. Também não me sinto velha como os meus óvulos. Mas o que eu sinto, nesse caso, não importa muito. A natureza é mesmo implacável.

“Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”,

“Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”, “Se não congelar...”, “Congele, senão...”

TELEMARKETING

— Para maiores informações, a senhora deve entrar em contato com o sac.

— Mas eu não quero informações maiores.

— Não compreendi, senhora.

— Eu quero mais informações. Não me importa o tamanho.

— Não compreendi, senhora.

— O tamanho não interessa.

Desligou.

SOBRE CHAMPANHE E SAUDADE

Quando me torno aluna

E m uma das minhas viagens sozinha à Itália, conheci um casal, de uns trinta e poucos anos, bastante divertido. Eu estava na piscina do hotel, em Capri, quando uma moça me abordou afirmando ser minha seguidora e fã do meu trabalho. Ela, brasileira, havia se casado com um italiano, que aprendia mais sobre a língua portuguesa por meio dos meus vídeos no Instagram.

— Querido, é ela mesmo. Você tinha razão.

— Não falei que era ela? Tudo bem? Prazer em conhecê-la, professora.

— O prazer é meu.

E realmente foi muito prazeroso. Sentamo-nos à mesa e conversamos muito. Como eram divertidos! Ela havia conhecido o rapaz, por volta dos vinte e poucos anos, na Itália. Apaixonaram-se, casaram-se e foram morar em Dubai.

— Eu conheci Dubai e achei a cidade interessante, mas não consigo me imaginar vivendo lá. Como é?

— Seco.

— Em todos os sentidos, né, Ana? Dubai não é um lugar propício para criar amizades...

— Realmente não é. Mas temos alguns bons amigos. Por exemplo, um casal de libaneses que vai chegar daqui a pouco.

— E vocês pretendem continuar lá?

— Não. Estamos lá por causa do emprego do Luigi. Mas vamos nos mudar para o Brasil em breve. Sinto saudade da minha família. Aliás, saudade tem plural, professora?

— Bem, a gramática não é como a matemática. Para alguns gramáticos, sim, para outros, não; mas prefiro dizer que não tem, porque não é contável. Da mesma forma que você não sente muitas raivas, você não sente muitas saudades.

— Mas eu poderia contabilizar as raivas que passei. Hahaha!

— Sorte sua. Eu não. Hahaha!

— E você? Viajando sozinha?

— Sim.

— Corajosa, você. Não tem medo?

— Teria medo de largar tudo e ir morar em Dubai por causa de uma paixão. Corajosa, você.

— Corajoso, eu.

— Por quê?

— Casar-me com uma brasileira. Vocês têm fama de doidas.

— Hahahahaha!

— E champanhe, Cíntia?

— Pode pedir. Já cansei desse vinho mesmo.

— Não... Champanhe é palavra masculina ou feminina?

— Ah, tá. Para mim e para a maior parte dos gramáticos, deveria ser palavra masculina, por se tratar de um vinho espumante – masculino, claro – produzido na região de Champagne, na França. Mas o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) registra, hoje, “champanhe”

como palavra masculina e feminina. A gramática não é como a matemática.

— Entendeu, lindo?

— Entendi. E ciúme?

— Ciúme? Raul Seixas falou que é só vaidade, Luigi. Evito sentir.

— Não... Ciúme tem plural?

— Hahahahaha! É o vinho. A palavra “ciúme” entra no mesmo problema da palavra “saudade”. Para alguns gramáticos, sim, mas, para outros, não, por não ser contável. Novamente: a gramática não é como a matemática.

— Mas já protagonizamos muitas cenas de ciúmes.

— Exatamente. As cenas são contáveis, as brigas são contáveis, mas o ciúme em si, por ser abstrato, não é. Entretanto, os estudiosos que se opõem a essa ideia utilizam exemplos como o substantivo masculino plural pêsames, cuja origem é singular – pêsame –, mas hoje é utilizado no plural, apesar de ser incontável.

— Confuso, né?

— A gramática não é como a matemática. Mudando de assunto, e vocês?

— Nós o quê?

— Estão há quanto tempo juntos?

— Onze anos.

Tão juntos que respondiam em coro.

— Pois é... Onze anos juntos, distantes dos países de origem de vocês, das famílias de vocês, em uma cidade pouco receptiva como Dubai... Não enjoa? Não cansa?

Responderam novamente em coro:

— O amor não é como a matemática, professora.

Olharam-se com cumplicidade, deram um beijo terno, como se um conhecesse a alma do outro, e sorriram para mim. Tornei-me, naquele instante, aluna. O amor não era mesmo como a matemática.

CANTIGAS INFANTIS

Nunca vou entender as cantigas infantis. .

Um atira o pau no gato, o outro chama o boi da cara preta. E, como se não bastasse, o amor, na cirandinha, “era pouco e se acabou”. Talvez as raízes da minha crônica insônia e da minha incurável descrença no sexo masculino estejam nessas cantigas.

Talvez. .

CHEGAR EM OU CHEGAR A?

Obrigadão!

—P rofessora, tudo bem? Eu me chamo Danilo e preciso de uma vaga. Só você pra me fazer passar em medicina. Faz quatro anos que tento e nada.

Estou desesperado. Se eu não passar neste ano, vou tentar outro curso, mas nasci para ser médico. Me ajuda!

Danilo estava na lista de espera por uma vaga no meu curso havia um certo tempo. Quando finalmente efetuamos a matrícula desse rapaz, senti-me na pele de padres, curandeiros e pastores.

— Professora, trouxe este presente. A minha mãe está muito agradecida pela vaga. Disse que agora eu vou passar. Temos fé em você.

Muito obrigado!

Eu já estava acostumada com esse tipo de pressão. Aliás, sempre gostei de dar oportunidades para aqueles que já perderam a fé em si de tanto tentar a aprovação nos famigerados vestibulares de medicina. Esse tipo de vitória é mais saboroso.

— Professora, como você deu vaga pro Danilo? Ele não presta atenção na aula, faz graça o tempo todo e não quer nada com a dureza.

Essa foi a advertência de um aluno bastante comprometido comigo e com a disciplina. Antônio Augusto era um primor na sala de aula.

— Antônio Augusto, agradeço a preocupação, mas fique tranquilo.

Ainda neste ano ele vai passar. E também não vai atrapalhar a aula. Ou o Danilo passa neste ano, ou mudo de nome.

As aulas começaram. Conforme esperado, Danilo colocou rapidamente as garras para fora e começou a fazer bagunça logo no primeiro dia. Não que ele fosse desrespeitoso. Jamais. Ele apenas queria chamar atenção.

— Cíntia!

— Oi, Danilo!

— Vou levantar só para pegar uns chocolates, tá?

Isso ocorreu no meio de uma explicação minha.

Na segunda vez em que ele fez isso, antes mesmo de ele ficar em pé, peguei o pote de chocolates e entreguei-lhe:

— É todo seu. Mais alguma coisa?

— Não, fessora.

— Ótimo.

Depois disso, passei a falar o nome dele o tempo todo, afinal, não haveria maneira mais fácil e pedagógica de ele ser o centro das atenções e, ao mesmo tempo, participar das aulas:

— Regência do verbo “chegar”, Danilo?

— Não é mesmo, Danilo?

— Vamos ver o que o Danilo acha.

— Danilo, você sabe a resposta?

— Como foi o fim de semana, Danilo?

Um mês depois, ele já estava domado, mas a qualidade da redação que escrevia variava de péssima a desesperadora. Fiquei intrigada: ele escrevia todas as redações que eu pedia, participava das aulas, mas não evoluía. Chamei-o para uma conversa:

— Danilo, preciso entender o que está acontecendo. Já faz quase dois meses que você está aqui, mas eu não vejo melhora na redação.

— Pois é... Eu travo na hora de escrever.

— Você está com algum problema em casa?

— Não.

— Com a namorada?

— Não. Essa é só motivo de alegria.

— No cursinho? Alguém está importunando você?

— Não.

— Drogas. Você está usando drogas?

— Credo, fessora.

— Credo nada. Eu preciso saber.

— Não.

— Pense em alguma coisa do seu dia a dia. Tenho certeza de que tem algo errado.

— Fessora, eu não consigo chegar em lugar nenhum, nem com a sua ajuda. Vamos desistir.

— Chegar a.

— Quê?

— A regência do verbo “chegar”. As pessoas chegam a algum lugar, não em algum lugar. Lembra? Você até brincou com o exemplo que eu dei.

— É verdade. Você disse que o feio também existe. Cheguei à sala.

Não cheguei na sala. O feio às vezes é o correto. Esqueci por causa do remédio que tomo. Deve ser...

— Espera. Que remédio???

— Ritalina.

— Você não me contou que tomava.

— Já tomei todos os dias, mas agora tomo pra estudar. Quando quero.

É tranquilo...

— Algum médico mandou você fazer isso?

— Não. Na verdade, faz muito tempo que eu não vou ao meu psiquiatra.

— Pois bem. Você só continuará no meu curso se marcar uma consulta com o seu psiquiatra. Onde já se viu parar de ir ao médico e tomar um medicamento tão forte por conta própria? Só pode ser o remédio...

Estamos combinados?

— Sim.

— Pode ir, então.

Ele arrumou as coisas, saiu da sala e voltou:

— Fessora!

— Oi.

— Valeu. Obrigadão!

— Agradeça ao verbo “chegar”. Ele salvou a gente.

Danilo voltou ao psiquiatra, passou a fazer uso correto da medicação adequada para o caso dele (não lembro se ele tinha déficit de atenção ou hiperatividade) e, semanas depois, apresentou uma melhora significativa nas redações.

Os vestibulares de inverno chegaram, os resultados já estavam saindo, mas nada de o Danilo passar. Eu já havia pintado o rosto de muitos alunos aprovados naquele mês; contudo, não tinha coragem de perguntar para ele sobre a aprovação, com medo de uma resposta negativa.

Dias depois, justamente na turma do Danilo, eu pintei o rosto de mais duas meninas aprovadas em medicina. Confesso que fiquei muito feliz por essas alunas, mas estava chateada por ele. De repente, no fim da aula:

— Fessora!

— Oi.

— Posso ir aí?

— Pode. Está passando mal?

— Não. Posso ir?

— Pode.

Foi até o quadro e, diante da turma, disse:

— Eu passei.

— Como?

— Eu passei! E foi graças à redação, que jogou a minha nota pro alto.

— Mentira! E você esperou até agora pra me falar? Que raiva!

— Era surpresa... Eu tirei 19,25 em 20 na redação. Foram quatro anos em seis meses! Vou ser médico! Obrigadão!

Abraçou-me. Estávamos emocionados. Não sei se foi o remédio, se foi o amor, se foi a dedicação de ambas as partes ou se foi tudo isso junto.

Mas de uma coisa eu sabia: ele não havia chegado a algum lugar, mas ao lugar. Obrigadão, Danilo!

PRESIDENTA

Tudo bem. O vocábulo “presidenta” existe. Está correto. Está nos dicionários.

Está no volp. Tudo bem. Mas que é feio é. Nossa. . Como é feio. Deus me livre de ser chamada de presidenta de alguma coisa.

Credo!

PREFIRO Y DO QUE X OU PREFIRO Y A X?

As propagandas de margarina

C arlos, meu amigo de infância, cumpriu, na vida amorosa, todo o protocolo de um bom menino: namorou Flávia por três anos, ficou noivo por mais um ano e casou-se em uma tradicionalíssima igreja de Belo Horizonte. Depois, como esperado, multiplicaram-se sob a rigorosa instituição do matrimônio.

Ele, oriundo de uma família pouco estabilizada, falava, desde pequeno, em constituir um lar:

— Quando eu crescer, quero ter uma família de propaganda de margarina.

— Sério? Eu nem penso nisso. Quero ser reconhecida na minha vida profissional.

— Você não quer ser mãe, Cíntia? Eu quero tanto ser pai... De meia dúzia de meninos.

Bem, ele não era pai de meia dúzia, mas de três meninos. Médico, vivia bem com a mulher, apesar da escassa vida sexual.

— Você não sente falta, Carlos?

— Ah... Sinto, mas chego tão cansado do plantão... Flávia também não coopera. Ela me trocou pelos meninos.

— Você reclama disso há meses. Deveria resolver essa situação. Por que vocês não fazem uma viagem?

— Não adianta.

— Como não?

— Eu durmo.

— E ela?

— Come o tempo todo.

— Acha que ela tem outro?

— Não... Acho que nós viramos irmãos.

— Meu amigo, resolva essa situação. O nosso tempo de vida é

precioso...

E Carlos resolveu. Dois meses depois, ligou para mim:

— Preciso me abrir com alguém. E só serve você.

— O que houve?

— Só conto pessoalmente. Nem as paredes podem saber.

Não sei o que tenho, mas as pessoas, conhecidas e desconhecidas, sentem-se muito à vontade para fazer de mim um depositário de segredos pecaminosos.

Ele chegou ao meu apartamento. Tremia. Suava. Pediu um copo d’água.

— Estou tendo um caso.

— Você? Não creio!

— Estou. Me deixa falar.

— Tá bom...

— Estou tendo um caso com um homem. Pronto. Falei. Ufa!

— Com um homem??? Você está traindo a Flávia com um homem, Carlos? Desde quando?

— Faz dois meses.

— Quem é ele?

— Renato, médico do hospital. Você não conhece.

— Você sempre foi gay e nunca me contou?

— Não sou gay.

— Tá bom. Bi. Você sempre foi bi e nunca me contou?

— Não sou gay, não sou bi, não sou nada. Quer dizer, sou hétero. Dá pra parar de me categorizar?

— Difícil. Levei um susto. Conheço você desde criança. Estou tentando entender. Se bem que, pensando agora, você sempre foi mais sensível do que os outros garotos mesmo...

— Pare. Vou embora. Achei que você me entenderia.

— Calma que estou tentando.

— Você é cheia de amigos gays, sua personal vai se casar com outra mulher. Achei que seria compreensiva.

— Estou sendo. Mas entenda que, no seu caso, houve uma mudança brusca, né? Quem imaginaria isso?

— O pior de tudo, o mais apavorante, é que prefiro fazer sexo com o Renato do que com a Flávia.

— O do que está errado.

— Eu sei que estou errado...

— Não... O prefiro DO QUE está errado. Diga: prefiro fazer sexo com o Renato A fazer com a Flávia. Use a preposição “a”.

— Não é possível que você vai me corrigir num momento deste, Cíntia.

— Estou tomando tempo para não falar as coisas erradas. Preciso de um uísque para continuar. Caubói. Aceita?

— Sim.

— Bem, diante dessa sua preferência e dos dois meses de traição, presumo que você vai pedir o divórcio, né?

— Não quero.

— Como não quer?

— Amo a Flávia. Não me vejo sem ela. Temos uma família.

— Uma família que você está traindo. Já imaginou se ela descobre a verdade e faz um escândalo? Você perderá a oportunidade de assumir o rapaz quando achar que deve.

— Não vou assumir. Nunca. Prefiro a morte a assumir.

Carlos aprendia as regras gramaticais rapidamente. Era um gênio nas questões intelectuais, mas um asno nas sentimentais.

— Vamos assumir um fato: você criou esse casamento de propaganda de margarina para suprir a sua carência familiar. Cumpriu todos os protocolos aparentemente necessários à vida matrimonial perfeita. Mas nunca foi feliz. E, agora, aos quarenta anos, você exorciza isso por meio de um homem e está desesperado. A grande questão é: esse relacionamento homossexual é uma...

— Eu não sou gay!

— Tá bom. Esse relacionamento aparentemente homossexual é uma fase ou é o tipo de relacionamento que você quer para a vida toda?

— Não sei. Só tive o Renato.

— Você tem de se separar, Carlos. Vai contar a verdade pra ela ou vai assumir depois de um ano, como todo mundo que trai faz?

— Você está sendo dura comigo. Nem acho que seja traição... Prefiro ser traído com uma mulher a ser traído com um homem. No mínimo, a mulher tem algo que não tenho.

— Deve ter. Bom senso. Traição é traição, Carlos!

— Você preferiria ser trocada por um homem a ser trocada por uma mulher?

— Preferiria não ser trocada.

— Mas e se você não tivesse escolha? Você será trocada. Escolha.

— Ser trocada por um homem é algo inesperado, mas não tem como concorrer. Se isso ocorresse comigo, eu pensaria que, por mais que eu me esforçasse, não haveria como competir. Então, talvez, eu me sentisse menos mal.

— Vou pra casa. Te ligo quando decidir o que vou fazer.

Naquela noite eu não dormi. Lembrei-me da nossa infância, da nossa adolescência. Carlos sempre foi o “bom partido” da escola... Como pode?

A vida é cheia de surpresas mesmo.

Nos dias seguintes, Carlos não me atendeu. Fugia de mim como o diabo foge da cruz. Isso era sinal de que ele continuava na mesma situação.

Dois meses depois:

— Cíntia, não consigo terminar com nenhum dos dois. Vou levar essa situação até a hora em que não der mais.

— Até a Flávia descobrir e fazer um escândalo, você quer dizer.

— Acho que ela já sabe.

— Como assim?

— Ela disse, na semana passada, que considera a minha amizade com o Renato muito boa, que prefere o Carlos depois do Renato ao Carlos antes do Renato.

— E você perguntou o porquê?

— Nem quero saber. Tenho medo de perguntar.

É... Não sei qual situação é pior: a de quem prefere enganar ou a de quem prefere ser enganado. Talvez a culpa seja das propagandas de margarina.

EXAGERADA

“Já te liguei um milhão de vezes.”

“Sou louca por chocolate.”

“Tô morrendo de cólica.”

E, com três frases, você entendeu a mulher e a hipérbole.

SOBRE A CONJUNÇÃO MAS

Uma pecaminosa conjunção

—A os catorze anos, fui apresentada às regras de conjunções. Na verdade, esse encontro ocorrera antes disso, mas a pessoa responsável por cristalizar em mim um bom conhecimento a respeito das conjunções foi a professora Gisele.

Aliás, essa mulher quebrou vários paradigmas meus relacionados ao perfil de uma professora: ela era linda, elegante, charmosa, alto-astral e tinha uma Mercedes. Não sejamos falsos... Todos sabemos que o senso comum acredita na seguinte visão estereotipada de professora de colégio: mulher pouco atrativa fisicamente, de gosto duvidoso e sem recursos financeiros. Minto? Sei que não.

“A Mercedes era do marido”, alguém há de dizer. Mas devo adverti-lo, malicioso leitor, que se trata de um pueril e previsível engano da sua parte. Gisele ministrava aulas em todos os horários das manhãs e das tardes no meu colégio, criava duas filhas sozinha, dava aulas particulares durante os fins de semana e ainda tinha tempo para ser linda. Uma inspiração!

Mas deixemos os elogios à minha eterna papisa da língua portuguesa para entrarmos no cerne da questão: o pai-nosso. Sim, o pai-nosso que talvez você reze ou ore todos os dias.

Bem, após entender o uso das conjunções e crer, a partir disso, que eu era a própria encarnação do Machado de Assis, passei a fazer análise sintática de tudo o que dizia e pensava. E, dessa orgia linguística, nem o pai-nosso escapou.

Tudo ocorreu em uma noite na qual, como sempre, eu rezava o pai-nosso antes de me deitar.

“Não nos deixeis cair em tentação vírgula mas livrai-nos do mal.

Amém.” O quê? Está errado? “Não nos deixeis cair em tentação vírgula mas livrai-nos do mal. Amém.” Claro que está, Cíntia, porque, se a

tentação é um mal e não um bem, ela não se opõe a livrar-me do mal.

Logo, não poderia haver a conjunção adversativa mas com a vírgula que cabe a ela nessa oração da oração mais conhecida do mundo!!! Que absurdo! Um erro de português no pai-nosso...

No dia seguinte, assim que cheguei ao colégio, imbuída de toda a pecaminosa vaidade linguística que já me era peculiar, procurei a professora Gisele e disse:

— Professora, o assunto é sério. Aguente firme.

— Como, Cíntia?

— Precisamos escrever uma carta para o papa.

— Está tudo bem?

— Comigo, sim, mas, com a revelação que faremos, talvez a fé católica seja abalada.

— Continuo sem entender.

— O pai-nosso, Gisele. Você nunca percebeu que a conjunção mas , em

“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”, dá a entender que a tentação é um bem? Precisamos retirar essa conjunção do pai-nosso.

Ela riu, divertindo-se com a pitoresca situação, e revelou-me:

— Esse mas não é adversativo.

— Como não? Todo mas é. Você me ensinou isso!

— Como ele não é virgulado, tem valor aditivo. Seria como se disséssemos “não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos do mal”.

— E por que você não falou disso na aula?

— Porque darei os casos especiais das conjunções hoje. Amém?

— Amém.

Entrei na sala de aula convencida de que, por mais que eu estudasse a língua portuguesa, ela sempre me surpreenderia. Esse foi, indubitavelmente, o meu primeiro exercício de antivaidade linguística.

PAUSAS

O ponto e vírgula é um sinal gráfico que marca uma pausa maior do que a vírgula e menor do que o ponto.

Por quê?

Ora, se fosse o contrário, ele se chamaria vírgula e ponto.

E ponto final.

CASAR OU CASAR-SE?

Let’s get married!

A s pessoas costumam ir a Las Vegas à procura de shows, jogos, esportes radicais, enfim, entretenimento adulto. Eu, no entanto, fui à procura de casamento. Sim, leitor. Casamento. Mas, nesse caso, eu queria me casar com o “padre”.

— Amiga, você não vai fazer isso, vai?

— Tamara, se você não quiser ir, tudo bem. Eu vou.

— É doida mesmo.

— Vai perder o meu enlace matrimonial?

— Jamais. Alguém precisa testemunhar essa loucura sua.

— Então vamos.

Escolhi uma das melhores capelas de Las Vegas; afinal de contas, tratava-se do meu casamento. Chegando lá, uma celebração já ocorria, e um casal aguardava para dizer o famoso “ I do ”.

— Bom dia!

— Bom dia! Em que posso ajudar?

— Eu queria me casar.

— Hummm... Um casamento gay. Nunca vi duas noivas tão lindas!

Soltei aquela gargalhada.

— O que ela disse? Meu inglês é tão ruim...

— Se você largasse o celular por um minuto, talvez entenderia, Tamara. Ela está achando que somos um casal, que vou me casar com você.

Tamara logo quis esclarecer a situação:

No , moça, no . We are friends . Entendeu? Friends .

— Deixa que eu converso com ela, Tamara. Qual o seu nome, querida?

— Susie.

— Então, Susie, eu vim aqui para me casar com o Elvis.

— Mas ele não pode se casar com você! Ele não casa.

A atendente parecia indignada.

— E aí, amiga?

— Ela está dizendo que o Elvis não casa.

— Claro que não casa! Não te avisei? O Elvis não vai casar com você.

Vamos embora, amiga.

— Realmente, ele não vai casar comigo. Ele vai se casar comigo.

— Como assim, Cíntia?

— Os cônjuges se casam, Tamara. As pessoas devem dizer que se casaram, não que casaram. Por mais que dicionários e algumas gramáticas digam que o verbo “casar” pode ser pronominal ou não, ou seja, pode ter ou não ter esse “se”, eu insisto em dizer que as pessoas se casam, que é a forma mais tradicional. Tão tradicional quanto o casamento. As pessoas se casam!

— Por isso que no casamento da Julinha você disse que ela não casou, e ninguém entendeu...

— Sim.

— Ela ficou chateada com essa história de você fazer piada com o casamento dela. Eu não ia falar nada, porque não quero confusão pro meu lado, mas...

— A piada não foi com o casamento dela, mas com a fala dela. Custa falar “eu me casei” ou “nós nos casamos”? O verbo “casar” fica bem melhor quando é pronominal se queremos fazer referência aos noivos. Os noivos se casam, mas não casam. Pode me chamar de ortodoxa. Não ligo.

— Você está é com inveja.

— De ela ter se casado com aquele pirralho? Não me casaria com o Tomazinho nunca. Já te disse que eu não pego pra criar. Agora eu vou conversar com essa Susie aqui e cuidar do meu casamento, tá? Susie, continuando... Eu vim aqui para me casar com o Elvis. Você não pode me negar isso... Vim de longe, do Brasil, só para me casar. Olhe a minha tatuagem aqui no pulso.

Oh, what a nice tattoo!

— Então, nice , né? É o autógrafo do Elvis... Você precisa me ajudar, Susie.

— Tudo bem. Se o Elvis quiser... Mas precisaremos de um outro Elvis para celebrar o casamento de vocês. E esse casal aí ainda vai se casar.

Depois disso, você pode tentar.

O casal em questão, para a minha surpresa, era brasileiro e fez o

convite:

— Querem assistir ao nosso casamento? Estávamos até meio chateados por não haver ninguém aqui para ver.

Respondi prontamente:

— Queremos, sim! Obrigada!

— Viu, Tamara? Tudo está fluindo a favor...

Quando a cerimônia já em andamento terminou, o Elvis apareceu.

— Elvis!

Hi , baby!

— O meu nome é Cíntia. Eu vim do Brasil para me casar com você.

Whaaat?

— Sim. Olhe a minha tatuagem.

Amazing tattoo, honey .

Amazing , né? Também acho. Então, depois do casamento deles, você se casa comigo?

Crazy girl , vamos conversar depois. Deixe-me celebrar esse casamento antes. Você vai assistir?

— Vou.

— O que ele disse, Cíntia?

A essa altura do campeonato, Tamara já queria até ser madrinha.

— Disse que vai conversar comigo depois do casamento deles. Mas vai se casar, Tamara. Eu sinto. Vi nos olhos dele.

Obviamente, durante a cerimônia, chorei mais do que a noiva. Aliás, eu chorava e ria, chorava e ria. Descompensada mesmo, leitor. Chorava porque acreditava estar diante do próprio Elvis Presley e ria porque ele, com um tipo de humor peculiar ao do Elvis, fazia a celebração com trechos e com títulos das canções mais conhecidas.

— Você promete não ser um hound dog ? Promete não ter suspicious minds ? Promete nunca a levar ao Heartbreak Hotel ?

Depois do término da celebração, a piada era o meu rosto inchado de tanto chorar, mas ele disse:

Baby , nenhuma noiva se emocionou como você. O seu amor é realmente verdadeiro e tocou o meu coração. Let’s get married!

A cerimônia foi linda... Entrei de braços dados com ele, que cantava, enquanto subíamos ao altar, Can’t help falling in love . Depois o meu

“noivo padre” (ou seria “padre noivo”?) fez os votos e respondeu a eles simultaneamente. No fim do enlace, beijou-me com um longo selinho,

testemunhado pela amiga Tamara, que prontamente eternizou esse momento com uma bela fotografia, devidamente postada no Instagram, na qual, como todas as noivas, seguro o buquê e beijo o meu noivo, que, de padre, não tinha nada. Casei-me com o Elvis, que, always on my mind , será o meu eterno marido.

ESTRESSE

Vejo stress e vejo estresse. Na vida e nos dicionários. As duas formas parecem-me inevitáveis. Na vida? É assim mesmo. Nos dicionários? Não há o que fazer. Na ponta da minha caneta? Prefiro estresse.

SOBRE VERBOS DERIVADOS DE VER

Uma panela de brigadeiro e o meu sofá

—D ata, horário e local de nascimento, por favor.

Respondi.

— Então verei você na sexta-feira que vem, ao meio-dia. Combinado?

— Combinado. Mal vejo a hora de conhecer você, Rose. Obrigada.

Estava marcada a minha consulta com uma das astrólogas mais respeitadas de São Paulo. Eu nunca havia cogitado a hipótese de ir a astrólogas, cartomantes e afins, mas a minha conturbada vida sentimental fez de mim uma curiosa desse tipo de, digamos, orientação.

— Fiz o seu mapa. Muito auspicioso.

Auspicioso? Quem fala “auspicioso”?

— Auspicioso em qual área?

— Bem, você é libriana, com ascendente no início de áries e com uma acentuada influência de capricórnio. Impressionante esse capricórnio na sua vida, viu? Faz de você uma pessoa demasiadamente determinada.

Demasiadamente? Eu achava que só eu falava “demasiadamente”...

— Eu prevejo muita coisa boa para a sua vida profissional...

Ela sabe a conjugação do verbo “prever”... Vejo tanta gente errando isso... Que lindo!

— O Júpiter que está transitando pela sua casa sete mostra que os próximos anos serão propícios para casamentos.

Casamentos? Eu? E ainda no plural? Essa mulher só pode estar louca.

— Rose, impossível. Namoro meu é que nem período probatório de empresa: não passa de três meses. Quando eu vejo, já terminei.

— Esse excesso de exigência da sua parte vem do excesso de ar presente no seu mapa. Mas eu me refiro a casamentos na vida profissional, a alianças profissionais.

— Ah, claro. Só podia ser.

— O seu melhor planeta é na casa das vinculações. Muitas pessoas se

casam devido a essa influência, mas prevejo que esse não será o seu caso.

Estou começando a tomar raiva desse “prevejo”...

— Mas calma. Eu não vou me casar nunca?

— Vai. Eu prevejo casamento.

— Espere. Um casamento tipo “e foram felizes para sempre” ou vários casamentos, tipo a Gretchen?

— Eu prevejo um, até porque você não tem mais idade para ter tantos casamentos quanto a Gretchen.

Credo...

— Mas quando?

— Demora um pouco... Você estará mais madura.

— Mas madura quarentona ou cinquentona?

— Os astros não dizem. Isso eu não prevejo, querida.

Claro... Nem a astróloga consegue ver quando eu vou desencalhar. Eu prevejo uma crise de raiva quando essa sessão acabar.

— Prevejo poucos, mas bons amigos, uma vida longa e sucesso profissional.

— Não tem nem um namorado aí não?

— Eu não prevejo namorado. O seu mapa astral mostra que você não tem ainda muita habilidade para ceder. Já se casou com o trabalho.

— Vou ter de me divorciar dele para me casar?

— Não. Prevejo que o tempo vai dar a você o equilíbrio necessário.

— Você não prevê aí um cara moreno, alto, sarado, grisalho, bem-sucedido e seguro de si, não?

— Não sou o Tinder, querida.

Grossa...

— Mais alguma coisa?

— Sim. O seu português é muito bom. Não pude deixar de observar.

— Meu noivo é professor de língua portuguesa.

— Foi Júpiter transitando pela casa sete?

— Não. Foi o Tinder mesmo.

Nesse momento eu previ uma panela de brigadeiro e o meu sofá.

— Não vou falar que tenho um dó de alguém, Cíntia.

— Então não fale. .

— Posso dizer que tenho uma dó? Só na hora de falar. Se for pra escrever, eu escrevo que tenho um dó.

— Claro que não!

— Então vou usar “pena”. Tenho uma pena. Assim não erro.

— Você não vai errar. . Implicou tanto com a norma que já aprendeu.

Até na negação existe aprendizado. Um dó. .

O QUANTO OU QUANTO?

Uma raivosa docente

S exto período de Letras, segundo estágio profissional e dois anos e meio de experiência em correção de redações. Esse currículo me colocou à frente de muitos concorrentes e rendeu a mim a única vaga disponível no cursinho de língua portuguesa mais disputado da época.

Eu estava corrigindo textos quando o coordenador geral me disse:

— Cíntia, a professora Regilene pediu a sua demissão.

— Como, Jacinto? O meu trabalho não está satisfatório?

— Está... Os alunos adoram a sua correção. Você é a estagiária mais disputada por eles.

— Qual argumentação a Regilene usou então?

— Vou ler a formalização dela: “Jacinto, peço que dispense a corretora Cíntia Chagas, porque ela não demonstra humildade para aprender e não segue as minhas regras de correção. Você sabe o quanto valorizo o alinhamento entre professores e estagiários. Grata, Regilene”.

— Me dê aqui essa formalização, por favor.

Peguei o papel, que acompanhou o tremor das minhas mãos, e li novamente. Depois, pedi a ele uma caneta e corrigi o erro gramatical ali contido, afinal, essa era a minha função.

Jacinto,

Peço que dispense a corretora Cíntia Chagas, porque ela não demonstra humildade para aprender e não segue as minhas regras de correção. Você sabe o quanto valorizo o alinhamento entre professores e estagiários.

Grata, Regilene.

Professora Regilene,

Também considero o alinhamento bastante importante, por isso devo corrigir o erro contido na sua formalização.

“Você sabe”: oração principal

“o quanto valorizo o alinhamento entre professores e estagiários”: oração subordinada substantiva objetiva direta.

As orações subordinadas substantivas começam com pronomes, advérbios interrogativos ou conjunções integrantes; portanto, constitui erro gramatical usar o artigo “o” para iniciar esse tipo de oração. Mas, caso a minha explicação não tenha ficado clara, darei a você um exemplo fácil, que utilizo para ensinar aos nossos estudantes:

Se o período “você sabe o como trapacear” não é correto, também não são corretos períodos como “você sabe o quanto valorizo o alinhamento”, “você sabe o quão importante é o alinhamento”.

Espero, então, que você tenha entendido a minha explicação, a fim de que possamos ficar “mais alinhadas”, afinal, sabemos quão importante é a sintonia entre professores e estagiários.

Grata,

Cíntia Chagas

— Pronto. Pode devolver pra ela.

— De jeito nenhum! Não quero confusão com ela. Esqueceu que a

Regilene é a coordenadora de redação?

— E você, como coordenador geral, vai fazer o quê? Ela pede a minha demissão, mas os alunos adoram o meu trabalho.

— Vou passar você para a equipe de literatura.

— Eu? Trabalhando com literatura? Jamais.

— É isso ou a demissão.

— Você acha a atitude dela justa?

— Não. Sei que é coisa de mulher. Ela nunca foi com a sua cara.

Inclusive, abriram um pré-vestibular excelente aqui em BH, e ela disse que você não pisará lá enquanto ela estiver viva.

— Mas ela tem esse poder?

— Tem. É coordenadora lá também.

— Que raiva toda é essa? O que eu fiz pra essa mulher, Jacinto? Eu sou só uma corretora... Não represento nenhum perigo pra ela.

— Nasceu, Cíntia. Nasceu.

— E agora?

— Aceite a minha oferta. É a única maneira de você continuar aqui.

— Não posso aceitar, Jacinto.

— Por quê?

— Porque não tenho conhecimento pra isso.

— Mas você adquire.

— Jacinto, o meu filme preferido é Uma linda mulher . Aliás, até pouco tempo atrás, eu achava que Godard era marca de chocolate suíço. Isso sem contar o meu gosto musical: eu corro atrás do trio elétrico e não tenho a mínima vontade de trocar isso por saraus de literatura. Não faço o tipo “cult”. Deus me livre!

— Você me diverte, Cíntia.

— Juro que é verdade! E literatura, então? Apesar da inquestionável importância de Graciliano Ramos para o cânone literário, eu aprecio, mas não gosto do livro Vidas secas , que já li três vezes. E aquela cachorra Baleia com aquele Fabiano? Deus me livre! E, se eu contar isso por aí, arderei como os trucidados na Inquisição. Daí eu lhe pergunto: como vou dar aula desse tipo de texto? Eu vou acabar desestimulando os alunos.

Isso sim. É quase uma heresia da sua parte me pedir isso.

— Você acha que eu só dou aula daquilo de que gosto?

— Eu gosto de noventa por cento da gramática, Jacinto. Mas, no caso da literatura brasileira exigida no ensino médio, eu devo gostar de dez

por cento.

— De que você gosta?

— Na literatura do ensino médio? Do Machado de Assis e do Érico Veríssimo, por exemplo.

— E realmente não gosta do Graciliano Ramos?

— Eu o admiro, é claro. Mas isso não faz com que eu goste de ler os livros dele. Ou sou obrigada a gostar dele só porque serei professora?

— Não... Não é obrigada. Mas não saia por aí dizendo que não gosta dele. Guarde isso pra você. Pega muito mal não gostar das obras do Graciliano Ramos.

— Não consigo ficar calada, não. Se me perguntarem, falarei a verdade.

— Nunca vi uma estagiária tão honesta... A maioria diz que ama Graciliano Ramos e afins, mas, na hora do vamos ver, percebo que eles leram muito pouco e difundem discursos prontos sobre ele.

— Pois é...

— Você me deu motivos para dispensá-la, mas uma pessoa tão lúcida sobre si vale ouro. Vamos combinar o seguinte: um ano.

— Como assim um ano?

— Durante um ano, você assistirá a cinco filmes – escolhidos por mim

– por semana e fará o relatório de cada um. Vou indicar a você uns livros e umas músicas também.

— Vou ter de ler Graciliano Ramos?

— Não. Já vi que você tomou trauma. Futuramente, quem sabe?

— Negócio fechado. Mas não diga que eu não avisei.

Depois de dois meses como pupila de literatura, a professora Regilene procurou-me:

— Cíntia, você poderia voltar para a redação?

— Como???

— A corretora que eu coloquei no seu lugar não dá conta de corrigir o montante de textos, e estamos sem tempo para fazer seleção de estagiários. Você dividiria com ela? Você sabe o quanto eu prezo o cumprimento do prazo de entrega das correções.

Pelo visto o Jacinto não havia entregado a minha resposta a ela.

— Volto, sim. Sem problemas.

Retornei para a minha disciplina preferida, cumpri o meu combinado de um ano na literatura e permaneci nesse pré-vestibular por quatro

anos. Lá, tornei-me de fato professora, tive as minhas turmas de redação e fui muito feliz, apesar das infundadas perseguições da professora Regilene, que nunca se esquecia de mim. Ah! Sabe aquele cursinho excelente no qual eu nunca colocaria os pés? De fato, mesmo após o aposentamento da raivosa docente, eu nunca coloquei. Tive, então, de construir o meu, graças à Regilene, que nem imagina quão grata sou à crueldade dela. Bem, agora imagina.

NAMORAR

— Tô namorando com o Leandro.

— Hummm. . E qual é o nome do seu namorado?

— Leandro. Acabei de dizer.

— Não. . Você disse que namora com o Leandro.

— Então!

— Você namora alguém com o Leandro. Moderno isso.

— O que você está insinuando?

— Eu? Nada. Foi você que disse.

— De onde você tirou essa história?

— Da regência verbal.

— Quê?

— Se bem que esse tipo de coisa pode ser antigo: a minha mãe namorava com o meu avô.

— Oi???

— Ela namorava um rapaz com o meu avô ao lado. Para o vovô vigiar.

— Hummm. . Acho que entendi.

— Mas o tal Leandro. Vigia você ou participa?

— Afffff! Tchau, Cíntia.

Risos.

SOBRE ERROS EM DISCURSOS

Irrefutável?

F inalmente o meu amigo Tarcísio, após longos sete anos e vários riscos de jubilação, formou-se em história. Esse processo perdurou por muito tempo não somente pela inquestionável vocação do Tarcísio para o ócio, mas também pela natureza prolixa – que resvalava na linguagem – do amigo em questão. Além disso, ele ocupava tanto o próprio tempo com demandas políticas que não conseguia se dedicar aos estudos nem aos poucos amigos que conservara após se tornar um militante radical. Eu, que o considerava um amigo, recebi a repentina notícia, por meio de um pedido de correção textual, da inacreditável formatura.

— Cíntia, adivinha? Formei! Finalmente serei professor, minha amiga, e você terá uma participação especial nisso!

— Participação especial? Vou ser convidada para a sua formatura depois de dois anos sem contato com você?

— Não. Você vai corrigir o meu discurso da colação de grau. Não quis te convidar para a festa porque você não vai se dar bem com os meus amigos.

— Eu não vou me dar bem com eles? Ou será que eles não vão se dar bem comigo?

— Você não iria mesmo, né? Sei que foi tragada pelo estilo capitalista de vida.

— Não vou nem comentar. Mas você fará o discurso? Cuidado que o povo vai dormir na hora, hein?

— Deixa de ser chata. O discurso tem limite de linhas. Dá até pra ler pra você aqui pelo telefone. Daí você vai corrigindo. Pode ser?

— Pode, né? Você vai falar na minha cabeça até dizer chega se eu não aceitar.

— Então vou começar: Primeiramente, boa noite .

— Já errou.

— Mas eu nem comecei direito, Cíntia!

— Errou. É a primeira coisa que você fala no discurso. Pra que usar

“primeiramente”? “Segundamente” é que não seria...

— Tá bom. Continuando: Boa noite! Antes de mais nada, gostaria de dizer que ...

— Errado.

— Não é possível. O quê?

— O que é “nada”, Tarcísio? Nada. O nada é nada. Então diga-me: o que há antes do nada? Nada. E depois do nada? Nada. Logo, “antes de mais nada” é uma expressão completamente vazia de sentido.

— Mas todo mundo usa!

— Você quer errar como todo mundo? Quer ser todo mundo?

— Não... Tudo bem, Cíntia. Faz sentido mesmo. Continuando...

— Nem precisa continuar, porque o “gostaria de” também não está bom.

— Por quê?

— Porque você não gostaria de dizer. Você está dizendo e vai dizer.

Pra que usar o gostaria?

— Mas uso o quê?

— Modifique as palavras seguintes. Continue a frase para eu corrigir.

Gostaria de dizer que sou grato sobretudo a Deus .

— Agradeço a Deus. Pronto.

— Entendi. Boa noite! Agradeço a Deus pela oportunidade de finalizarmos uma etapa tão especial das nossas vidas .

— Vocês são gatos por acaso?

— Gatos?

— Não dizem que os gatos têm sete vidas? Os licenciados ou bacharelados em história também têm?

— Por quê?

— Porque você disse “nossas vidas”.

— Mas é a vida de cada um.

— Só que cada um tem uma vida. A não ser que você se refira às supostas vidas das reencarnações.

— Aff! Que coisa chata!

— Chata é a prolixidade do seu texto.

Boa noite! Agradeço a Deus pela oportunidade de finalizarmos uma etapa tão especial da nossa vida. Agradeço também os nossos pais pelo

apoio incondicional .

— Agradeço aos .

— Não é agradeço os ?

— Não. Você agradece o apoio ao homem. Agradeço aos pais, aos colegas... Entendeu?

— Sim. Boa noite! Agradeço a Deus pela oportunidade de finalizarmos uma etapa tão especial da nossa vida. Agradeço também aos nossos pais pelo apoio incondicional e aos nossos colegas pelo companheirismo .

— Tire os “pelos” e o “pela”.

— Oi?

— Para muitos gramáticos, é errado dizer agradeço por , pelo ou pela .

Diga apenas: agradeço a Deus a oportunidade, agradeço aos pais o apoio, agradeço aos colegas o companheirismo.

— Mas é muito feio!

— O feio também existe, Tarcísio.

— Tudo bem. Boa noite! Agradeço a Deus a oportunidade de finalizarmos uma etapa tão especial da nossa vida. Agradeço também aos nossos pais o apoio incondicional e aos nossos colegas o companheirismo .

— Uma pergunta: todos os pais deram apoio incondicional? Todos os colegas foram companheiros?

— Pedi pra você analisar o português, não o conteúdo.

— Mas não posso me abster do fato de que o seu discurso está cafona e mentiroso como quase todos os discursos de formatura. Você quer que eu bata palmas pra você?

Agradeço a Deus a oportunidade de finalizarmos uma etapa tão especial da nossa vida. Agradeço também aos nossos pais o apoio incondicional e aos nossos colegas o companheirismo . Hoje em dia, em um mundo cada vez mais capitalista, exercer a nossa profissão com ética é o nosso maior dever .

— Se o verbo “ser” está no presente, só pode ser hoje em dia . Então retire essa expressão desnecessária.

— Mas eu quero dar ênfase!

— Isso é chato, é repetitivo, é redundante. Retire o “cada vez mais”

também.

— Não é possível! Qual o problema com o “cada vez mais”?

— Trata-se de uma expressão desgastada pelo uso excessivo, de um clichê. Ninguém merece!

— Que insuportável!

— Insuportável é ouvir o seu texto. Estou livrando você do mico do ano. Fora o conteúdo, né?

— O que tem o conteúdo agora?

— Tarcísio, você afirmou que o capitalismo não é ético. Isso não é conteúdo próprio para um discurso, até porque você não fundamentou essa argumentação.

— Eu não afirmei isso!

— Você disse: Em um mundo cada vez mais capitalista, exercer a nossa profissão com ética é o nosso maior dever . Infere-se, então, que o capitalismo não é ético, ideia completamente questionável.

— Ah, agora entendi tudo! O seu problema não é com o meu discurso, mas com o fato de eu ser de esquerda.

— Os conceitos de direita e de esquerda utilizados popularmente também não são irrefutáveis, Tarcísio.

— Cíntia...

— Oi.

— O que é irrefutável?

Desliguei o telefone e fui trabalhar.

AMOR SINCERO

— A palavra “arrozes” existe, amor?

— Claro! Por quê?

— Está aqui no cardápio: arrozes e massas frescas.

— Sim. O plural de substantivos terminados em “z” é feito com o acréscimo de “es”.

— Feio, né?

— Gravidezes, avestruzes, arrozes. A gente se acostuma com o feio.

— Será?

— Eu não me acostumei com você, amor?

A NÍVEL DE OU EM RELAÇÃO A?

A rústica sou eu

C onstantemente, os meus amigos, imbuídos de solidariedade em relação ao meu estado civil, apresentam-me a candidatos diversos, o que rende a mim histórias inusitadas como a que irei narrar.

Era véspera das enfadonhas festas natalinas quando Gilda resolveu me presentear com um futuro noivo.

— Cíntia, sabe a festa que farei aqui em casa?

— Sei.

— Será a festa da sua vida. Apresentarei a você o pai dos seus filhos.

— Mas eu nem sei se quero ter filhos, gente.

— Agora você quer. Isso você resolve depois. O importante é arrumar um marido.

— Se eu quisesse de fato um marido, já teria arrumado.

— Mas você vive reclamando que está solteira!

— E você não conhece a mania que tenho de fazer piada comigo mesma, Gilda? Não quero um marido a qualquer custo.

— Enfim, ele estará aqui e você também. Vou te pedir apenas para ser mais maleável.

— Maleável como?

— Ele não é sofisticado como você gosta. Faz o tipo rústico.

— Isso é eufemismo para qual adjetivo, Gilda?

— Não é eufemismo. Ele é rústico, gosta de fazenda.

— Ai, ai... Não estou gostando disso.

Na noite seguinte, quando cheguei à casa da Gilda, todos já estavam presentes: mulheres de um lado, homens de outro. Dei aquele aceno geral e cruzei o meu olhar com o dele, que me fitou de forma realmente rústica.

— Então, amiga, gostou?

— Não deu pra avaliar...

Depois de alguns minutos, sentamo-nos todos juntos, o que propiciou o início de uma conversa:

— Cíntia, esse é o José Paulo.

— Tudo bem?

— Melhor agora. A Gilda falou muito sobre você. É professora, né?

— Sou.

— Vai viajar nas férias?

— Provavelmente. Como tenho o hábito de viajar sozinha, não costumo planejar muito.

— Mas agora você tem companhia. Também não resolvi o que fazer no Réveillon.

— Não se trata de falta de companhia, né, Gilda? Mas de opção.

E comecei um diálogo mental com a Gilda, que entendia cada olhar meu.

Que homem ansioso é esse que você me arrumou, Gilda?

Calma, amiga, ele está empolgado com você.

— Gilda falou que você é solteira.

— Sim.

— Mas você quer casar, né? E ter uma ninhada de filhos, né?

Ninhada, Gilda? Que linguajar é esse?

É rústico, amiga.

Rústico, né?

— Não pensei nessa ninhada ainda, José Paulo.

— Quero te dizer que da minha parte tá tudo arrumado: sou separado, não tive filhos e tô pronto pra arrumar a mulher da minha vida. Tenho dinheiro demais da conta, você não vai se preocupar com nada. A nível de dinheiro e de disposição, tenho de sobra.

Gilda, que cantada mercantilista é essa? E ele ainda fala “a nível de” ...

Calma, Cíntia. Ele está tentando agradar.

— Que bom que você tem essa disposição toda.

— Gilda falou que sou fazendeiro?

Gilda, gostar de fazenda é diferente de ser fazendeiro.

Foi uma mentirinha, amiga. Mentirinha do bem.

— Imagino que, a nível de fazenda, você esteja muito bem.

— Demais da conta. Você gosta de fazenda, né? Lá na fazenda tem perereca pulando na gente, tem cobra, tem onça. Você vai ver. Dá pra fazer uma festança de casamento boa demais da conta lá.

— A nível de festança, você deve ser ótimo mesmo.

Cíntia, deixa de ser irônica com ele.

Você quer o quê? Você acha normal essa cantada rural e mercantilista? E

esse “a nível de” irritante? É um dos vícios de linguagem mais condenados pelos gramáticos. Afff!

— Junho é um mês bom, Cíntia.

— Bom pra quê?

— Pra casar, porque podemos fazer um casamento junino.

O quê?

— Bom que a Gilda vai fazer os pés de moleque, né, Gilda querida? A nível de cozinha, você é ótima.

— Cíntia, vamos à cozinha comigo, amiga?

— Vamos não, Gilda. Vou ver até que ponto chegará esse circo.

— Que circo?

— Nada não, José Paulo. Coisa nossa.

— Sabe que você vai dar uma ótima parideira?

— Como???

— As ancas. Mulher mirradinha não dá boa prole não. Você tem carne.

Dá pra parir uma prole danada de boa. Vai ficar bonitona quando estiver prenha!

Vou matar você, Gilda.

Pedi licença, levantei-me e fui ao toalete. Gilda correu atrás de mim.

— Desculpe-me, amiga.

— A nível de amiga, estou na pior.

— Por quê? Não fiz por mal.

— Porque achei que ia conhecer um rústico tipo o Wolverine e conheci um Nerso da Capitinga rico e tosco que fala “a nível de”.

Rimos da situação e, logo depois, saí à francesa, já que, em relação à paciência, a rústica sou eu.

SE EU TIVESSE. .

— Se eu tivesse trago. .

—Trazido.

— Tá. Se eu tivesse trazido o. . Mas calma. Por que “trazido”?

— Você nunca me ouve. Quer que eu explique mesmo?

— Sim.

— O verbo “trazer” não é abundante.

— Como assim?

— Ele não tem a forma “trago” no particípio.

— Mas “trago” existe.

— Sim. Eu trago boas notícias, dei um trago no cigarro. .

— Então. Trago existe.

— Mas não na construção do “se eu tivesse”. Entendeu assim?

— Entendi.

— Que bom.

— Então, como eu falava, se eu tivesse trago. .

Joguei diamante na cruz. Só pode.

POSFÁCIO

Mas por que português?

Fabrício

A os seis anos de idade, eu tive a minha primeira desilusão amorosa. O

nome do dito-cujo era Fabrício, responsável não só pelas muitas lágrimas que derramei, mas também pela minha obsessão com as palavras.

Conheci Fabrício na Kombi que nos levava ao colégio. Assim que o vi, apaixonei-me loucamente. Ele tinha oito anos e incumbiu-se da função de abrir e fechar a porta do veículo em questão. Quando o vi, eu logo pensei: encontrei o homem da minha vida. Parece brincadeira, mas o meu amor desmedido pelo Fabrício levou-me, ainda criança, ao psicólogo. Acompanhe-me.

Conforme disse, vi o Fabrício e fiquei obcecada. Fazia de tudo para chamar a atenção dele: falava alto, encurtava o short (que imediatamente era desdobrado assim que eu voltava para casa), usava as maquiagens da minha mãe, mas nada surtia efeito. Fabrício, indiferente aos meus encantos, apenas tinha olhos para uma menina da idade dele.

Eu era uma pirralha. Estava fadada a morrer nessa condição.

No ano seguinte, não estávamos mais em uma Kombi, mas em um ônibus escolar, o que fez o meu ciúme aumentar ainda mais: Fabrício era o centro das atenções (até hoje não sei por que, pois fisicamente ele nem chamava atenção) e criava brincadeiras, durante a volta para casa, das quais eu nunca podia participar. Aos sete anos, finalmente criei coragem e escrevi uma carta para ele, na qual eu revelava todo o meu amor.

Entreguei-lhe a bendita (ou maldita?) carta no meio do corredor do ônibus, na frente de todos os colegas.

— Fabrício, fiz para você.

Ele, cruel, ao ver o envelope da carta, no qual havia o nome dele dentro de um coração, disse:

— Meu nome não é com cê-cedilha, sua burra! É com cê! Vá estudar o dicionário!

E rasgou a carta, sem ao menos ler, na minha frente.

Chorei, chorei, chorei. Passei dias chorando. Não queria comer, não queria ir à aula. Dor de amor, sabe?

Minha avó ficou preocupada:

— Temos de levar essa menina ao psicólogo. Isso não pode ser normal nessa idade.

Fui a uma psicóloga, mas a única coisa que eu falava era que eu queria um dicionário. Não qualquer dicionário, mas o maior do mundo. Depois de um tempo de terapia, ela disse:

— Deem o dicionário que a Cíntia quer. Isso a acalmará. Mas precisamos analisar a relação dela com o pai. Isso certamente é fruto da ausência da figura paterna.

Acho que a vovó não gostou dessa história de figura paterna, já que me tirou da terapia logo em seguida.

— Frescura isso de figura paterna. Vamos comprar o dicionário.

Nessa época, eu já tinha oito anos. Lembro-me, como se fosse ontem, do dia da compra daquele dicionário enorme, de capa preta e dura, que eu mal conseguia carregar. Aquilo não era um dicionário. Era o portal para o amor.

Passei a decorar as palavras do dicionário, mas não encontrei Fabrício lá. Ele não me mandou estudar o dicionário para aprender a escrever o nome dele? Ora, bolas! Então passei a decorar os significados de termos difíceis para depois perguntar se ele os conhecia, mas o Fabrício não se dava nem ao trabalho de responder. Nada chamava a atenção dele.

Anos depois, ainda atormentada por aquele amor, aos dez anos de idade, tentei uma outra estratégia: eu havia ganhado um sutiã (sem necessidade nenhuma, aliás) da minha avó. Vesti o sutiã, coloquei o uniforme e fui para o colégio. Na volta, dentro do escolar, perguntei a ele:— Fabríciooo, eu já uso sutiããã. Você duvida?

— Duvido.

Tirei a blusa do uniforme. Ele gritou. Chamou o dono do veículo.

Cobriu o rosto. Gritou de novo. O homem ficou uma fera e obrigou-me a voltar, de cabeça baixa, ao lado do motorista, sem poder falar com ninguém. Quando chegamos à minha casa, ele, ainda bravo, disse para a

vovó:

— É melhor a senhora ver o que essa menina tem. Ela tirou a roupa hoje no ônibus escolar. Se já está assim aos dez anos... Não sei não...

Os anos seguintes foram regados a ironias e a brincadeiras dos demais colegas em relação ao meu amor pelo Fabrício. Havia musiquinhas com o meu nome, piadas, tudo o que as crianças são capazes de fazer quando querem implicar com outra criança.

Mas, como o mundo dá voltas, quando fiz catorze anos, Fabrício resolveu olhar para mim. Em um dia de provas, terminei-as rapidamente e fui para o ônibus. Quem chegou logo depois? O Fabrício! Era a primeira vez que ficávamos sozinhos naquele local onde a tragédia da carta ocorrera. Eu estava sentada lá no fundo. Ele veio até mim. Meu coração disparou. Sentou-se ao meu lado e, magicamente, lascou-me um beijo!

Oito anos depois! Oito anos de espera! Mas, para estragar a magia daquele momento, ele não só beijava como um aspirador (lambuzou o meu rosto todo com a língua) como também colocou a mão na minha coxa. Que absurdo! Retirei bruscamente a mão dele e saí correndo.

Chorei mais uns dois anos e nunca mais vi o Fabrício. O meu amor por ele se foi, mas o meu amor pela língua ficou. A portuguesa, é claro.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa . São Paulo: Saraiva, 2009.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa . São Paulo: Companhia Nacional, 2008.

______. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Lexikon, 2009.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens 1 . São Paulo: Atual, 2012.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Gramática do português contemporâneo . Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.

FERNANDES, F. Dicionário de regimes de substantivos e adjetivos . Porto Alegre: Globo, 1958.

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HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

ROCHA LIMA. Gramática normativa da língua portuguesa . Rio de Janeiro: José Olympio, 2017.

LUFT, C. P. Dicionário prático de regência nominal. São Paulo: Ática, 2011.

Vocabulário ortográfico da língua portuguesa . Disponível em: <http://www.academia.org.br/nossa-

lingua/busca-no-vocabulario >. Acesso em: 11 abr. 2018.

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EXCLUSIVO EM EBOOK!Uma linda garota caminha pela rua quando, de repente...Julia Carroll sabe que muitas histórias começam assim. Bonita,

inteligente, dezenove anos e recém-chegada à faculdade, ela deve tomar cuidado. Mas, mesmo com todo cuidado, ainda está apavorada, porque várias meninas estão desaparecendo.Uma colega sua, Beatrice Oliver, desapareceu. Assim como uma moradora de rua chamada Mona-Sem-Nome. As duas sumiram no meio da rua, sem deixar vestígios.Julia não quer ser a próxima... Sua única saída é descobrir as razões por trás desses mistérios. A garota dos olhos azuis é um emocionante e inesquecível prequel do best-seller da autora Karin Slaughter, Flores partidas.

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Prisioneiros da mente

Cury, Augusto

9788595084445

320 páginas

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E se você fosse um prisioneiro em sua própria mente?Theo Fester é um inteligente e poderoso magnata do Vale do Silício, empresário

mundialmente conhecido e pai de três filhos orgulhosos, frios e bem-sucedidos – mas sua história inicial foi dramática. Filho de um sobrevivente do Holocausto, ele começou a empreender para sobreviver à dor de seu pai, à pobreza e ao bullying na infância, tornando-se especialista em se reinventar. Conseguiu um dos homens mais ricos do mundo. Tanta riqueza e poder, porém, não conseguem esconder a verdade: a família Fester está falida, saturada de lutas internas e disputas irracionais.Iluminado pelo instigante psiquiatra Marco Polo, Theo descobre que na humanidade há milhões de pessoas prisioneiras de seus próprios egos, de anônimos a celebridades, de miseráveis a milionários. A família Fester é um perfeito exemplo, um grupo de mendigos emocionais. À beira da morte, o megaempresário usará estratégias incríveis para libertar seus filhos dos cárceres e torná-los cidadãos mentalmente saudáveis, mas também descobrirá que é mais fácil ganhar bilhões de dólares do que resgatá-los. Nunca um pai levou os filhos ao limite como ele, promovendo entre os três testes de estresses inimagináveis – talvez você mesmo não os suportasse.

Prisioneiros da mente é mais um romance intenso e estimulante do dr.

Augusto Cury que o leitor não vai esquecer tão cedo. Prepare-se para conhecer seus próprios cárceres mentais.

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Amar e ser livre

Baba, Sri Prem

9788595082182

176 páginas

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O imenso e invisível mundo dos afetosSe alguém busca os fundamentos para um mundo melhor, certamente há de passar pela questão dos

relacionamentos, e o maior desafio é encontrar o caminho para vivê-los da maneira mais leve, plena e feliz. Com sabedoria e ponderação, Sri Prem Baba leva os leitores de Amar e ser livre a refletir não só sobre a qualidade e a saúde de nossos relacionamentos em todos os seus níveis

– como interações sociais, espirituais etc. –, mas também sobre a forma como eles são elaborados, compreendidos e nutridos.Por meio das palavras iluminadas do mestre, o leitor aprende como germinar os afetos com mais apuro e sensibilidade. Neste livro, Prem Baba proporciona a serenidade e o equilíbrio necessários para o entendimento amplo de uma realidade para a qual a vida moderna parece obstruir a visão: a descoberta da generosidade e da simplicidade do que há de mais humano e divino nas pessoas."Neste livro, Prem Baba se dedica ao tema de amplo interesse da qualidade amorosa e do desenvolvimento possível do sentido das relações amorosas, desde uma necessidade de verdade entre os casais e na família até o efeito dessa virtual verdade amorosa sobre o mundo inteiro."Tales Ab'saber"Prem Baba mostra que a importância de um relacionamento feliz ultrapassa as fronteiras das pessoas envolvidas, vai além da realização pessoal e se torna uma questão de suprema importância para um mundo melhor. Amar, diz ele, requer uma grande coragem. E afirma que, se pudéssemos ter relacionamentos amorosos, saudáveis e construtivos, certamente não haveria tanta maldade no mundo. Para ajudar a iluminar o mundo, precisamos tentar primeiro iluminar a nós mesmos. Quem sabe aqui comece a sua jornada."Bruna Lombardi

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