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A Andarilha, ou Dificuldades Femininas

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Sinopse

A Andarilha – ou Dificuldades Femininas – é a história de uma emigrada da França revolucionária, que tenta ganhar a vida na Inglaterra, enquanto guarda muitos segredos. Essa é a síntese da obra que trouxe um sentimento de inadequação à autora. Se o leitor fizer um exercício mental, talvez, lembre-se de alguma situação na qual disse ou escreveu alguma coisa que lhe trouxe esse sentimento amargo: o sentimento de que “talvez não devesse ter dito aquilo” ou escrito. Posso dizer que se sua resposta for “nunca”, você é um felizardo, pois a linguagem faz parte do ser humano e falar ou escrever o que não deveria ter sido dito ou escrito, infelizmente, também é uma realidade. E o arrependimento, a culpa, sobretudo a “fatura” sempre vêm depois. Em A Andarilha, lançado em 1814, Frances Burney disse o que, talvez, estivesse preso em suas memórias amargas – o que foi notável para nós leitores não ingleses –, mas péssimo para sua reputação como autora inglesa. E a resposta da sociedade inglesa, principalmente das mulheres, não demorou. O livro, ao contrário dos demais da autora, teve apenas duas edições (a segunda parcialmente vendida), já que “cancelaram” a última obra-prima de Frances Burney. Pergunto-me: “será por esse motivo que ela nunca mais escreveu?” –, pois ela viveu 26 anos após A Andarilha, um tempo longo, em que poderia ter nascido vários outros livros, levando-se em conta a história das datas de suas produções: houve um espaço de apenas quatro anos entre Evelina (1778) e Cecilia (1782). De Cecilia para Camilla (1796) houve um lapso de 14 anos, mas foi parte do período em que ela esteve na corte, de 1786 a 1790, cuidando do que a rainha Charlotte vestiria e vivendo os bastidores da realeza, o que atrasou sua escrita. Durante os quatro anos (ela não suportou mais que isso) em que ela ocupou o cargo de “Guardiã das Túnicas” ou “Guardiã dos Hobes” da rainha Carlota (ou Charlotte) de Mecklemburgo-Strelitz, rainha de Jorge III, ela conviveu na corte, conheceu a nobreza e fez um “estágio” com a aristocracia britânica. (Inclusive se correspondeu com as princesas (filhas da rainha Charlotte, até o fim de sua vida). Um período que a “municiou” com histórias da “sociedade” que ela trouxe 18 anos depois, se levarmos em conta o lançamento de Camilla em 1796, mas se levarmos em conta o ano de 1802, ocasião em que ela pulicou Camilla revisado, 12 anos. Portanto, mesmo se déssemos 12 anos para cada livro, ela poderia ter escrito, no mínimo, mais dois. O que a difere de Jane Austen – a quem ela tanto influenciou –, foi que a morte a tomou de sua escrita. No caso de Burney, não foi a morte que cessou sua pena, mas a crítica, pois ela morreu em Bath contando histórias do passado às suas sobrinhas, histórias que apenas especulamos quais eram, pois jamais saberemos, uma vez que ela colocou um ponto final em sua carreira como romancista em A Andarilha. Dessa forma, se falso ou verdadeiro, ninguém tira a certeza de que o sentimento de inadequação a tirou do mercado e da História da Literatura, pois que diferença exorbitante há entre Austen e Burney, para a primeira ser a representante da literatura inglesa pelos ingleses e por Burney ter sido praticamente esquecida? Respondo: ela ousou criticar aqueles que se “alimentavam” de suas histórias e a alimentavam.