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A Beleza e a Tristeza

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Sinopse

Beleza e tristeza, do romancista japonês Yasunari Kawabata, chega ao público brasileiro como fruto do trabalho de uma equipe mais que respeitável. Traduzido do japonês para o inglês por Howard Hibbett (professor emérito de literatura japonesa em Harvard) e do inglês para o português por Alberto Alexandre Martins (poeta e artista plástico, ganhador do prêmio Jabuti), tem prefácio de Teixeira Coelho (professor da ECA-USP) e posfácio de Roberto Kazuo Yokota (mestre em filosofia pela USP). Como toda a obra de Kawabata, Beleza e tristeza é o romance de um mundo globalizado. Não, porém, de maneira explícita, pois a globalização não é seu tema. Ela é sua circunstância. Escrevendo em meados do século XX, sua obra tem por contexto histórico a modernização voluntária do Japão antes da Segunda Guerra, e sua ocidentalização (ou americanização) compulsória depois da derrota. Isso se reflete no livro de muitos modos. Por um lado, a própria forma do romance realista-psicológico é ocidental. Por outro lado, a visão de mundo é japonesa. E se o romance, no sua origem, é narração, isto é, ação, na sua migração para o Japão se torna contemplação. Uma contemplação, porém, expandida para a dimensão de um romance, e perturbada pela presença do passado no presente, assim como pela invasão do presente de um passado ainda marcante. Nas palavras do posfaciador, “Cenários e objetos apresentados não apenas situam a ação, mas caracterizam especialmente a inação, mais precisamente, a contemplação da situação. Kawabata dá preferência a ambientes esvaziados, silenciosos, em momentos inertes. Quando figura situações movimentadas, sugere que são desagradáveis, ruidosas, perturbadoras. Assim, desde a primeira cena no trem vazio, [contempla-se] a paisagem do Monte Fuji, interrompido pela presença ruidosa de turistas americanos. [...] Paisagens e vistas panorâmicas são como que pintadas no texto. [E se] o cenário interessa, é pelo simbolismo da ausência, seja do passado histórico que assombra os monumentos, seja da melancolia da contemplação solitária, seja da catástrofe anunciada ao futuro”. A referência à “pintura textual” não é arbitrária. Além de indicar outra marca de hibridismo do romance, desta vez de linguagem, “as personagens principais gravitam em torno do mundo da arte, de uma arte japonesa evanescente, vinculada a uma tradição sobressaltada pelo processo de modernização. Oki Toshio, escritor reconhecido, busca a reconciliação com sua antiga amante, Ueno Otoko, renomada pintora. [...] Oki faz sucesso com o romance que descreve a intensa relação clandestina mantida com Otoko, então adolescente, assim como a trágica sina da jovem após o rompimento. [...] No romance de Oki, como na pintura de Otoko, há a referência nostálgica – mesmo que indireta e simbólica – à separação, não apenas de um amor irresolvido, mas de todo um mundo dolorosamente desfeito. [...] A reconciliação de Oki e Otoko é impossível, a despeito de seus desejos; o mundo que os unia, inexiste. Todavia, foi o distanciamento e o desaparecimento desse mundo que propiciou sua arte”. E a de Kawabata.