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Gramática Negra Contra a Violência de Estado
- Paulo César Ramos
- 283 Páginas
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Avaliações: 24
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Sinopse
Neste livro, Paulo César Ramos mergulha em acervos de organizações e de militantes do movimento negro para compreender as ideias mobilizadas ao longo dos anos para fazer frente à violência de Estado, especialmente aquela que se expressa nas ruas das grandes cidades brasileiras por meio da brutalidade policial — que apenas cresceu após o fim da ditadura. Ao descrever como as palavras de ordem foram mudando — de “discriminação racial”, nos anos 1970 e 1980, para “violência racial” nos anos 1990, até chegar às denúncias de “genocídio negro”, nos anos 2000 —, o autor aponta a radicalização do protesto negro e o acúmulo político das organizações negras, além de demonstrar como pautas de “interesse geral” — Diretas Já, Constituinte, eleições e processos de impeachment, além de discordâncias internas diante de governos progressistas — acabaram diluindo as ondas de protesto surgidas no transcurso das décadas, impossibilitando mudanças estruturais contra a morte sistemática da população negra.
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Forte e sóbrio, este livro nos lembra de que a lenta construção de uma democracia popular no Brasil é fruto do trabalho árduo e constante dos movimentos sociais, cuja trajetória está cheia de vitórias — e também de derrotas. Ao combinar documentos encontrados em arquivos de organizações negras e dados quantitativos sobre as disparidades entre as taxas de mortalidade de brancos e não brancos como consequência da violência policial, Paulo César Ramos demonstra, com uma sólida análise sociológica, que as sombras da plantation e do autoritarismo continuam pairando sobre a sociedade brasileira.
— Michael Hanchard
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Há uma nítida elevação no tom da violência policial denunciada pelo movimento negro ao longo das últimas décadas, e uma progressiva atenção dada ao par vida/morte no conteúdo dessa denúncia. Se, inicialmente, tal violência policial era equiparada à proibição da entrada de atletas negros em seu próprio clube esportivo, em um segundo momento a violência contra o corpo físico se tornou o drama central da população negra. Na sequência, o Estado apareceu como o protagonista geral de um ato que intentava a morte da população negra no Brasil, sob o nome de “genocídio”. Isso sem contar os outros problemas sociais que sempre apareceram associados à violência policial, como a própria discriminação, a exclusão social, a falta de acesso à educação, a diferença de rendimentos no mercado de trabalho, a menor presença em cargos políticos. […] Os casos explorados neste livro mobilizam, cada um deles, diferentes dimensões de raça, classe, gênero e território. Essas categorias articulam a radicalidade do problema social explorado aqui. São majoritariamente homens (e eventualmente também mulheres) que se depararam com a força bruta do Estado na interrupção de sua vida. É o desfecho trágico de determinados conflitos situados em um pacto racial que estabelece o chamado “lugar de negro” e preconiza que a saída desses sujeitos de tais lugares seja vista como uma violação desse pacto. A violência racial, que no vocabulário do movimento social denuncia a atuação letal da polícia, pode ser vista, pela perspectiva dos policiais, como a pacificação de um conflito: os policiais estariam agindo para corrigir uma desordem, recolocando os negros em seu lugar. Em outras palavras, a morte de pessoas negras seria a própria produção da ordem, o que se espera, em determinadas circunstâncias, dos agentes estatais: matar. Por outro lado, deixar viver e fazer viver — no caso, as pessoas negras — seria uma ameaça à ordem.