Os Passageiros do Futuro

B-Hor, Thera, Plick e Delon vivem no ano 3000 e se envolvem com experiências científicas e alta tecnologia. Por engano, Delon viaja no tempo e para numa lanchonete carioca em 1987, onde conhece Márcia e já arruma confusão. À procura do amigo, B-Hor, Thera e Plick também viajam... Os passageiros do Futuro Wilson Rocha é uma figura proeminente na história da TV brasileira: começou a trabalhar para a Rede Globo em 1964 desempenhando algumas funções ao longo dos anos, sendo a principal delas o papel de roteirista. Dentre os projetos que participou, o mais relevante para esta resenha que eu gostaria de destacar foi trabalhando por cerca de 10 anos no roteiro do Sítio do Pica-pau Amarelo. Aqueles que já assistriam a alguma das versões da TV desta obra de Monteiro Lobato lembram do clima lúdico e voltado para estimular a imaginação de seus telespectadores que pairava sobre a obra. E assim acontece com "Os Passageiros do Futuro", livro lançado em 1987 por Wilson Rocha através da saudosa e querida Coleção Vaga-lume. Por mais que estejamos falando de um livro infantojuvenil, diria que voltado para crianças de 9 a 12 anos, a primeira característica que me saltou aos olhos é que o autor respeita a inteligência da garotada: apesar da linguagem do livro ser bem simples e direta, o vocabulário do livro é bem legal, além de contar com conceitos e palavras criadas pelo próprio Wilson para a trama. Some-se a isso valiosas lições de ecologia e disparidade social, as quais o autor deu bastante destaque. Quem assistiu a desenhos dos anos 80 como He-Man e Capitão Planeta, que tinham uma moral a ser aprendida pelas crianças ao final de cada episódio, vai entender o sentimento. Outro ponto legal pra se destacar sobre "Os Passageiros do Futuro" é a grande criatividade. Fazendo outra referência aqui, quem assistiu à programas da TV Cultura como Castelo Rá-Tim-Bum ou Mundo da Lua, lembram daquela criatividade e identidade própria contidas naqueles programas. Pois eu tive um sentimento parecido aqui no que tange à criação deste futuro do ano 3.000 contido no livro. Por mais que seja um livro curtinho, em 128 páginas Wilson Rocha conseguiu desenvolver muito bem o cenário onde se passam as aventuras de nossos 4 personagens principais. Falando neles, segue um pequeno resumo da história: aqui acompanhamos as aventuras de 4 adolescentes do século XXXI que possuem capacidades especiais (Tal qual os X-Men): o super-gênio B-Hor, o garoto-bateria Plick, a transmorfa Thera e o lider deles, o cariamatico Delon, cuja única capacidade especial é o dom natural para liderar os amigos. Dentre as aventuras protagonizadas por essa turma, nós os vemos capturar um planeta-anão no deserto de Zônia (local conhecido como Florestra Amazônica em nossa era atual) e burlar o sempre vigilante e tirânico Inspetor Silas, responsável por manter a ordem no GLS (Grande Laboratório de Sapiência) onde os 4 estudam. Em determinado momento da história, Delon acaba indo parar no Rio de Janeiro do ano de 1987, onde vai acontecer os maiores questionamentos de Delon a respeito de toda a injustiça contida em nossa era e de como ainda existiam florestas e oceanos, antes do desastre ambiental ocorrido por volta do ano 2.300. Delon vai se questionar como o passado pode ser tão bonito e tão triste ao mesmo tempo. Buscando encontrar e trazer de volta o nosso protagonista, os outros 3 também tentam viajar no tempo, só que acabam indo parar no Rio de Janeiro de 1.710, bem no meio da invasão Francesa. E tome um pouco de aula de história para a criançada de bônus. Entendem o clima de TV Cultura contido no livro? Tudo foi engendrado por Wilson Rocha para incentivar a imaginação e a sede de conhecimento de seus pequenos leitores (e dos grandes também!). E ele consegue, em meras 128 páginas. Páginas muito divertidas de se ler, sem dúvidas. Ah, já ia quase me.esquecendo da cereja do bolo: há uma referência sutil ao "Guia do Mochileiro das Galáxias", uma vez que temos inteligências artificiais com personalidade na história, o que gera um ótimo alívio cômico. "O que mais espantou Delon, no entanto, nessa viagem, foi a decadência progressiva do ambiente. À medida que eles se afastavam do bairro em que tinha conhecido Denise, o cenário ia mudando para pior. Talvez as pessoas da época já estivessem habituadas a isso, mas, para um garoto que viera de mais de mil anos depois, o constraste era bem mais fácil de perceber."